Depoimento de uma professora |
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DAPHNE
NEVES
"Não encontrei meu príncipe encantado, mas,
só agora com 84 anos sei quem era meu amor. Foi a minha
profissão: o magistério."
Sou Daphne Neves, filha de João Neves,
comerciante, e de Dona Paulina Gomes Neves, dona de casa.
Nasci no dia 20 de Julho de 1918, na rua Pedro Álvares
Cabral, travessa da rua São Caetano. Moro na Avenida
Tiradentes, 876, Luz, desde 1924.
De 1926 a 1929 fiz o primário no Grupo Escolar "Regente
Feijó" pertinho da casa que moro até hoje,
de 1924 a 2002.
As minhas professoras foram: D. Conceição Fleury;
D. Clarice Trench, D. Carmem e D. Alzira Forster. A profª
Dona Clarisse Trench, foi muito meiga, foi a única
que me deu um prêmio de um livrinho de histórias
chamado D. Iça Rainha de Thales C.de Andrade.
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D.
Iça Rainha, livro recebido como prêmio que
D. Daphnes conserva até hoje |
1º
livro de leitura de D.Daphne: Meu livro de Theodoro de
Moraes - 1926 |
Não me lembro muito do período
escolar, mas penso que fui muito feliz, porque as quatro professoras
que tive foram excelentes.
O grupo escolar que estudei, "Regente Feijó",
foi extinto. Recentemente, foi alugado por uma produtora.
Atualmente, só está visível a entrada
de paralelepípedos. Às vezes entro e saio nela,
para matar saudades.
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Daphne
com 8 anos ( 2ª criança, sentada, da esquerda
para a direita).
Grupo Escolar " Regente Feijó"
2º ano primário - 1927
Prof Alzira Trench
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Daphne
com 7 anos (nona criança, sentada, da esquerda
para a direita).
Grupo Escolar "Regente Feijó" 1º
ano primário - 1926.
Profª Conceição Fleury |
Formada em 1938, fui trabalhar como professora
substituta no mesmo Grupo Escolar onde fiz o primário.
O diretor daquele ano era Sr. Paulo Bueno de Oliveira e sempre
me entregava as classes vagas do Sr. Vicente Peixoto, que
era comissionado. Nesse ano, senti um pouco de dificuldade
para dar aula. Eu acho que a escola precisava dar mais experiência
em dar aulas. Nós tínhamos pouca prática.
Acho que a gente precisa ter muita prática. Eu não
tinha uma orientação. Foi minha irmã
que comprou um livro, não sei se é do "Louzane",
que ensinava um pouco a maneira de dar aula. Eu falava muito
difícil. Sentia muita dificuldade, tinha que descer
às crianças.
Em 1948, em junho, prestei concurso e, como
professora efetiva, da Escola Rural do Morro Alto, em Itupeva
- Jundiaí, lecionei de 48 a 49, dando aulas para alunos
do 1º, 2º e 3º ano ( classe multiseriada mista).
Eu ia de trem, depois eu pegava um outro trenzinho para chegar
à Itupeva e, depois, uma charrete me levava para a
fazenda. Diziam que tinha trinta alunos, mas só encontrei
dez (número mínimo necessário para a
existência da escola), e mesmo assim eu tinha que sair
da sala e ir pela estrada buscar os alunos com os pais.
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Lembrança
de seu 1º ano de trabalho como professora substituta
no Grupo Escolar "Regente Feijó" 27/11/1939
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Escola
Rural de Itupeva - Jundaí 1948 |
Em 1950 fui removida para a Escola Rural
do Bairro do Castanho, em Jundiaí. Lá, dei aulas
para 1º, 2º e 3º anos. Com mais prática,
sala de aula e lousas amplas e ótimo resultado. Morava
numa casa próxima à escola.
Em 1952 fui removida para a Escola Mista do Bairro São
João, em Mauá, dando aula só para o 2º
ano e em 1953 dei aula para o 1º ano. Fui bem e até
guardei os exames finais dos alunos.
De 1954 a 1955 dei aula só para segundos anos. Em
54 e 55 fui auxiliar e algumas vezes diretora do Grupo Escolar
"Roberto Simonsen", em São Caetano. Era um
prédio antigo. Me senti mais calma, porque já
havia saído daquela dificuldade de lecionar para três
séries juntas (1º, 2º e 3º anos). Fui
direto para o grupo com uma classe só de 2º ano
que eu adorava e gostava de trabalhar.
Em 1956, fui para o Grupo Escolar "Pedro
Alexandrino", na Vila Mazzei. Lá fiquei até
1973, dando aulas para o 2º ano, onde me aposentei muito
feliz, modéstia à parte, por ter sido uma grande
mestra e Deus ter me ajudado na arte de educar, ter me dado
muita saúde e facilidade para trabalhar com a "2ª
série" e ter passado 32 anos lecionando sem sentir,
sem desanimar.
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Grupo
Escolar "Roberto Simonsen"
(antigo) - São Caetano
2º ano - 1954
Professora Daphne Neves
(sentada, à esquerda, ao lado da auxiliar de direção)
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Grupo
Escolar "Pedro Alexandrino" V. Mazzei - São
Paulo
2º ano primário - 1956 |
Me achava ainda mais segura. Escolhi uma
classe muito boa, tive sorte. Tive alunas que me deram muita
alegria. E o ambiente do grupo escolar: pátios e salas
enormes. Também me sentia bem com a diretoria e as
colegas.
Em 1957, fui professora do 3º ano do grupo escolar. Já
senti uma certa dificuldade, porque tinha predileção
pelo 2º ano. Mas me dei bem assim mesmo.
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Grupo
Escolar "Pedro Alexandrino" V. Mazzei - São
Paulo - 1957
3º ano primário
Professora Daphne Neves
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Grupo
Escolar "Pedro Alexandrino"
V. Mazzei - São Paulo
2º ano primário - 1958
Professora Daphne Neves |
Em 1958, me deram uma classe masculina. Eu fiquei com um pouco
medo, por causa da disciplina. Eu era uma professora muito exigente
e não gostava de escutar o barulhinho de uma mosca. E,
era uma coisa impossível conservar os meninos muito quietos.
Apesar de muitos probleminhas, ainda consegui tomar conta do
2º ano.
A partir de 1960, ao invés de tirarem a fotografia
das crianças, acharam melhor tirar do grupo de professoras
do 2º período. A maior parte lecionava no 2º
ano. Me sentia bem aí, com as professoras da 2ª
série, porque podíamos trocar idéias
para melhorar o ensino.

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1960
- Pátio do Grupo Escolar " Pedro Alexandrino"
Professora Daphne Neves, à esquerda e acima com
suas colegas, todas professoras dos segundos anos primários. |

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1961
- Grupo Escolar "Pedro Alexandrino"
Professoras dos 2ºs anos.
Professora Daphne sentada, segunda da esquerda para a
direita.
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1962
- Grupo Escolar " Pedro Alexandrino"
Professoras dos 2º s anos.
Professora Daphne sentada, ao centro. |
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