Placas de trânsito: galeria para artistas urbanos |
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Publicado no Site da Globo.com em 27/11/2007 |
Placas de trânsito servem de galeria para artistas urbanos
Autoridades acusam autores de vandalismo.
Artistas também buscam outros suportes.
Adesivos se multiplicam, sobretudo na região da Avenida Paulista e Rua Augusta.
Silvia Ribeiro
Do G1, em São Paulo
Silvia Ribeiro/G1
Multiplicam-se pelo centro da capital manifestações de um tipo de arte urbana que pode terminar em pena alternativa ou até mesmo prisão. Pequenos adesivos são cada vez mais comuns em semáforos de pedestres, lixeiras, postes, e até mesmo nas placas de trânsito, principalmente na região da Avenida Paulista e Rua da Consolação. Para especialistas, eles são arte típica do século XXI. Para a administração municipal, uma nova forma de vandalismo.
Os adesivos - ou stickers (etiquetas adesivas, na tradução do inglês) - surgiram nos anos 80, mas no Brasil passaram a se popularizar a partir de 2000. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não tem estimativa sobre o prejuízo que os stickers provocam nos cofres públicos, já que alega que algumas placas precisam ser substituídas após serem adesivadas. Entretanto, garante que este tipo de arte também traz riscos. “A falta de uma informação correta [no caso de placas alteradas com stickers] pode causar um acidente”, afirma o diretor de operações da CET, Adauto Martinez Filho. “A pena para quem faz isso é de seis meses a três anos de reclusão”, diz Martinez Filho.
Uma das leis que podem ser usadas para enquadrar os “infratores” é a que trata de crime ambiental, de 1998. Quem for flagrado fazendo colagens pode receber penas alternativas, como entrega de cestas básicas e trabalho comunitário, e até ser preso. A pena dependerá do tipo de colagem e do local onde foi realizada, conforme.
A companhia não tem dados sobre o número de unidades danificadas por causa dos adesivos. A cidade de São Paulo possui um total de 300 mil placas instaladas e mensalmente 3 mil são trocadas por já estarem no fim da vida útil ou por terem sofrido uma avaria.
Vandalismo ou arte
“Quem acha que é vandalismo são os órgãos públicos. Mas, por mais conservadora que uma pessoa seja, vai ficar na dúvida do que é aquilo e isso já gera uma discussão”, opina Cassiano Reis, de 31 anos. Ele começou em 2004 a criar lambe-lambes, que são espécies de cartazes em tamanho maior que os stickers. Nos últimos tempos, preferiu levar seu trabalho para galerias de arte para não correr riscos.
Para a artista plástica Ana Maria Tavares, professora da Universidade de São Paulo (USP), o fato de ser enquadrado como um crime não exclui a possibilidade de o sticker ser arte. “O artista não pode ser ingênuo. Ele tem de saber qual é a regra do jogo e fazer opções. Se é contravenção, tem assumir os riscos.”
Apesar da intenção dos criadores dos stickers - feitos com sobras industriais de etiquetas, folha de jornal ou lista telefônica -, muitos paulistanos ainda não foram sensibilizados pelos adesivos. “Eu acho que é poluição visual”, opina a assistente de qualidade Rosimary Oliveira na Avenida Paulista. Já o modelo Adriano de Oliveira julga essa forma de expressão "válida", mas condena colagens sobre placas de trânsito. A reportagem do G1 flagrou diversas sinalizações prejudicadas por adesivos.
Para evitar problemas, muitos “etiquetadores” adotaram um tipo de código de conduta para não ter sua arte confundida com vandalismo. “Eu não costumo colar em locais que são úteis. Tenho a consciência de que posso prejudicar pessoas mais velhas. Não apago placas. Colo na parte de trás ou o próprio poste”, diz Jey, de 30 anos, sócio da Grafiteria, galeria de street art de São Paulo.
A ordem na Subprefeitura da Sé, que zela pelo Centro da Capital, é retirar todo e qualquer adesivos e lambe-lambes de equipamentos públicos. Projetos culturais envolvendo stickers, diz a assessoria de imprensa, devem se enquadrar na legislação municipal para serem autorizados.
Subversão global
Subverter a relação das pessoas com a cidade é outra meta de quem faz stickers e outras colagens. “Quando se cola a figura de uma pessoa em um muro, ele
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL190364-5605,00-PLACAS+DE+TRANSITO+SERVEM+DE+GALERIA+PARA+ARTISTAS+URBANOS.html
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