Fungo assombra em sítio de arte pré-histórica |
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Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 03/01/08 |
Fungo volta a assombrar sítio de arte pré-histórica
Ar-condicionado pode ter agravado o problema em Lascaux, que guarda famosas pinturas rupestres
Em menos de dez anos, fungos voltaram a ameaçar as pinturas pré-históricas mais célebres do mundo, as imagens de animais na caverna de Lascaux, na região de Dordogne, sudoeste da França. Especialistas acreditam que a causa possa ser justamente o sistema de ar-condicionado, instalado para controlar a temperatura no local. Outras hipóteses seriam o dióxido de carbono exalado pelos visitantes e até a mudança climática. Embora poucas manchas tenham atingido as pinturas, já foram detectados cerca de 70 pontos que surgem no lugar onde foi removido, há alguns anos, o fungo Fusarium solani. As manchas vêm escurecendo e aumentando desde o último verão.
O governo francês ordenou o fechamento da caverna por até quatro meses para que se faça um novo tratamento das manchas com um fungicida. Estima-se que as pinturas, um impressionante conjunto de cavalos, touros, veados, cabritos e bois, alguns em repouso, outros galopando, atacando ou saltando, tenham entre 15.000 e 17.000 anos.
Os europeus que vagavam pela região usaram minérios triturados para criar cerca de 600 imagens em vermelho, ocre, marrom e preto. Desde setembro de 1940, quando foram descobertas por quatro adolescentes, sua preservação tem sido um problema constante.
A caverna foi aberta ao público depois da 2ª Guerra Mundial e chegou a receber 1.800 pessoas por dia. No fim dos anos 50, a respiração dos visitantes foi responsabilizada pelo surgimento de líquen e pequenos cristais nas paredes, o que levou ao fechamento em 1963. Desde então, apenas cinco pessoas por dia, cinco dias por semana, podem visitar a galeria subterrânea, e com permissão especial. Turistas são conduzidos para uma réplica da caverna nas proximidades, aberta em 1983.
Na verdadeira, novos problemas surgiram em 2001, quando as autoridades que a administram decidiram modernizar o sistema que regula a temperatura e a umidade. Logo depois da conclusão da obra, um mofo branco (o fungo F. solani) começou a espalhar-se rapidamente.
A responsabilidade tem sido atribuída à nova unidade de ar-condicionado e aos trajes dos trabalhadores que a instalaram. Mais tarde, estudos indicaram que o fungo já estava presente e poderia ter sido estimulado pela movimentação dos trabalhadores e o aumento da umidade.
O britânico Paul Bahn, um dos maiores especialistas do mundo em arte pré-histórica, afirma que a decisão de mudar o sistema elétrico no local é a causa real do problema. Em carta enviada à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), publicada pelo jornal The Times, ele diz que o resultado da reforma foi “catastrófico”. A Unesco estuda a possibilidade de colocar o sítio na lista de patrimônios ameaçados.
Outros especialistas apontam a mudança climática como causa. Nas últimas duas décadas, um pequeno aumento da temperatura e da presença de dióxido de carbono foi detectado em várias cavernas na França. Lascaux é especialmente sensível à mudança por ser pequena e rasa.
http://www.estado.com.br/editorias/2008/01/03/ger-1.93.7.20080103.5.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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