Cromossomo Y trabalha mesmo com pouco gene |
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Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 04/01/08 |
Cromossomo Y trabalha mesmo com pouco gene
Pesquisa conduzida por geneticista brasileiro mostra que regiões pouco conhecidas do cromossomo têm grande efeito em funções biológicas
Cristina Amorim
Um dos patinhos feios da genética ainda tem muito o que mostrar. Uma nova pesquisa publicada hoje na revista Science (www.sciencemag.org), conduzida pelo geneticista carioca Bernardo Lemos, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, indica que partes até então aparentemente sem utilidade do cromossomo Y regulam genes em outros cromossomos.
O Y é bem conhecido do público por determinar o sexo masculino nos humanos. Entre cientistas, ele não goza da mesma popularidade e é alvo de poucos trabalhos, especialmente em drosófilas. Afinal, em comparação com o cromossomo X, é pequeno, os poucos genes que carrega já foram estudados e determina fertilidade, mas não o sexo.
Em moscas-da-fruta (Drosophila melanogaster), modelo animal que Lemos usou em seu trabalho, o cromossomo Y tem apenas 15 genes identificados. Por outro lado, o X tem 2.500 genes descritos.
Entretanto, o cromossomo Y apresenta longas seqüências de DNA que não codificam genes, mas que são dinâmicas e acumulam mutações. “É como se os genes fossem pequenas bolinhas no cromossomo e houvesse toda aquela massa de DNA, que muda de tamanho e seqüência”, explica o pesquisador.
Lemos agora propõe que essa massa tem função: ele influencia a expressão de genes em outros cromossomos, como no X, especialmente aqueles que têm alguma função em machos. No total, ele observou que entre 100 e 1 mil genes externos são afetados.
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A influência aparece, por exemplo, em genes envolvidos no desenvolvimento do esperma. Em especial, eles ajudam a estabelecer a sensibilidade térmica essencial na formação dos espermatozóides e na adaptação ambiental.
Efeitos dessa massa de DNA também aparecem em genes associados a metabolismo de lipídios (gorduras) e ácidos graxos, assim como na formação de mitocôndrias e o citoesqueleto (a “base” das células).
“É completamente inesperado que tantos genes possam ser afetados em diferentes graus por diferentes linhagens do cromossomo Y”, diz Daniel Hartl, chefe do laboratório onde Lemos faz seu pós-doutorado. “Isso abre todo um novo campo de pesquisa.”
De fato, o próprio Lemos diz que a principal contribuição do seu trabalho é abrir portas, com o potencial de explicar como o cromossomo Y, especialmente tudo o que não é gene, influencia funções biológicas e tem impacto na evolução das espécies - de insetos e de outros animais, incluindo o homem.
“Esse resultado levanta muito mais questões sobre o papel do cromossomo Y do que traz respostas”, diz Lemos. “Eu ficaria surpreso se ele, com toda essa massa, fizesse apenas o que indicam uns poucos genes.”
http://txt.estado.com.br/editorias/2008/01/04/ger-1.93.7.20080104.9.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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