Miscigenação atenua características japonesas |
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Publicado no Site da Folha Online em 15/01/2008 |
Miscigenação atenua características japonesas puras no Brasil
GABRIELA MANZINI
da Folha Online
"Neste país, se você traçar uma linha e disser 'quem é japonês vai para um lado, quem não é vai para o outro', você não consegue", diz a professora do Departamento de Genética e Evolução da Unicamp, Vera Solferini. "Existem misturas que só acontecem aqui. Por isso, é claro que o tipo japonês puro puro puro deve desaparecer, assim como o loiro loiro loiro. Não é que as características estão sumindo, é que elas estão sendo integradas."
Solferini ri ao saber que, na internet, circula a versão de que os japoneses têm os olhos puxados porque são descendentes do povo mongol, que vivia em uma região muito fria --logo, segundo o argumento, os olhos mais fechados superaram os amendoados pois protegiam mais contra a luminosidade oriunda do reflexo do sol na neve.
"Sempre que a gente vê uma característica, tem vontade de dar uma explicação a ela. Mas essas histórias da carochinha não falhas. Cientificamente, elas não têm embasamento."
O mestre em Ciências Biológicas Danilo Vicensotto, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, concorda. Para ele, "seria especulativo dizer que o olho ficou puxado porque era melhor para tal coisa. Não dá para apontar causas e efeitos. Toda mudança é multifatorial".
"Um dos argumentos para o processo de mongolização [da aquisição de características mongóis, como o rosto retraído e os olhos puxados] é a adaptação ao clima frio, onde a luminosidade pode ser incluída. Mas, se fosse só isso, as pessoas de traços asiáticos também não deveriam ter capacidade ótica menor? E isso não acontece."
O sobrenome do meio da professora Solferini --Nisaka-- entrega o interesse dela na questão. "Tenho parentes portugueses, italianos, japoneses. Geneticamente, isso não importa. Todos somos tão parecidos que os olhos puxados são mero detalhe."
É um detalhe que intriga o advogado tributarista Kiyoshi Harada, 66. Para ele, a distinção dos integrantes da comunidade nikkei acabará em breve. "Daqui a 50 anos, os descendentes irão falar 'olha só o tataravô, ele tinha olhos puxados!'", diverte-se.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u362891.shtml
Jornal Folha de São Paulo
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