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Questões sobre a morte e a vida


Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 01/02/08

O que é mesmo a morte? E a vida?

Washington Novaes

Numa série de ensaios de personalidades do mundo científico, a revista New Scientist (13/10/2007) levanta alguns temas perturbadores. Primeiro, partindo do fato de que os êxitos da medicina estão eliminando infecções que são das causas mais freqüentes de mortes - e com isso alongam a vida média das pessoas -, coloca-se esta questão: a contrapartida da vida mais longa costuma ser a convivência com doenças crônicas, degenerativas e/ou desabilitantes; e como é mais lucrativo para a indústria farmacêutica fabricar drogas que mantêm vivos os pacientes, mas não curados, do que curar a doença e perder o consumidor, quase não se avança em produtos para combater as doenças da velhice. Na Grã-Bretanha, por exemplo, entre 1991 e 2001, a vida média dos homens passou de 72,5 para 75,5 anos e a das mulheres, de 78,5 para 80,5 anos. Mas a vida média sadia masculina passou de 66,5 para apenas 67,5 anos e a feminina, de 68 para 68,5 anos.

Um segundo tema é o de que novas tecnologias médicas, capazes de reabilitar partes lesadas do cérebro ou substituí-las, começam a pôr em questão o próprio conceito do que é a morte. E gerar questões complexas a respeito das relações humanas. Exemplo: uma pessoa cujas funções cerebrais, inclusive a memória, foram quase totalmente substituídas graças a tecnologias, deve ou não ser considerado casada com outra com quem conviveu durante décadas, mas não tem mais a mesma importância afetiva, nem sequer a memória do relacionamento?

Um terceiro ângulo: com as novas tecnologias, está crescendo o tempo médio de vida das pessoas - e, com isso, a população idosa -, mas esse progresso contribuirá para a superpopulação no planeta. Essa questão traria à cena interrogações sobre, por exemplo, quantos filhos uma pessoa pode ter. Deve-se chegar ao modelo chinês implantado na época de Mão Tsé-tung, de um filho apenas por casal (punindo por vários caminhos os transgressores)? Deve-se estimular a eutanásia ou o suicídio?, pergunta A. C. Grayling, professor de Filosofia na Universidade de Londres.

Está correto, pergunta o antropólogo e teólogo Douglas Davies, da Universidade de Durham, combater a cremação de cadáveres, porque polui a atmosfera, emite carbono, consome energia? Deve-se continuar permitindo, como nos EUA, que algumas pessoas decidam, ainda vivas, manter congelado seu cérebro ou seu corpo, na esperança de que no futuro se possa reverter uma doença terminal e elas consigam voltar a viver ou ter um novo corpo para o cérebro ainda em condições?

Nada disso é mera fantasia - tanto assim que em maio será realizado em Cuba um Seminário Internacional sobre Definição da Morte. Porque há muitas coisas perturbadoras acontecendo. Progressos da nanotecnologia e da miniaturização de equipamentos já permitem reparar funções cerebrais. Já há tecnologias para chips que “falam” com o cérebro, permitem, por exemplo, a um surdo “ouvir” e a cegos “ver”, da mesma forma que pessoas com paralisias já conseguem controlar computadores com o pensamento.

Diante disso tudo, diz James Hughes, professor de Bioética e Sociologia no Trinity College (EUA), é preciso pensar: nossa capacidade de reconstruir cérebros pode exigir que tenhamos de estabelecer novos parâmetros para definir o que é a morte. Ou a vida. Será a mesma pessoa alguém que tenha tido praticamente todo o cérebro reconstituído, modificado?

Talvez a questão mais inquietante seja a levantada pela própria revista, quanto ao desinteresse da indústria farmacêutica em desenvolver medicamentos para doenças degenerativas da velhice, para não perder o mercado. É mais um ângulo que vem somar-se a outros questionamentos em relação a esse setor. Ainda recentemente (2/12/2007) o próprio ministro da Saúde do Brasil disse que a política mundial de patentes “é o principal entrave à luta contra a aids no País” - mesmo depois que, enfrentando enorme resistência, o governo brasileiro quebrou a patente do medicamento Efavirenz, para que possa ser produzido aqui como genérico, a preços muito menores. Caso da mesma órbita fo

http://www.estado.com.br/editorias/2008/02/01/opi-1.93.29.20080201.1.1.xml

Jornal O Estado de São Paulo

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