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A força das imagens vindas do Japão


O Estado de São Paulo - 20.02.08

força das imagens vindas do Japão
Mostra de cinema no CCBB dá início às comemorações dos 100 anos da chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil

Luiz Zanin Oricchio

Não foi apenas uma leva de famílias que chegou a bordo do Kasato-Maru em 18 de junho de 1908. Veio junto uma cultura riquíssima e com ela o Brasil começou a dialogar. Entre as várias contribuições do Japão ao Brasil está o seu cinema, arte que ganhou conformação muito original naquele país. Nada mais natural, portanto, que parte das comemorações pelo centenário da imigração japonesa seja consagrada ao cinema, como a mostra que o Centro Cultural Banco do Brasil dedica ao cinema japonês.

Trata-se de uma retrospectiva panorâmica de 20 filmes distribuídos por diversas épocas, de 1930 aos contemporâneos. São 14 diretores cujas obras poderão ser vistas a partir de hoje, de clássicos como Yasujiro Ozu, Kenji Misoguchi e Akira Kurosawa a contemporâneos como Hayao Miyazaki, o fantasista de O Castelo Animado, desenho que fechará a programação dia 9 de março. A mostra teve curadoria do cineasta André Sturm, que considera o cinema japonês um dos mais influentes do mundo, 'mesclando tradição, ousadia e transgressão', diz.

Palavras justas para quem conhece ao menos um pouco da cinematografia japonesa. Basta pensar no diálogo de Ozu com a tradição (O Coral de Tóquio e Era Uma Vez em Tóquio), na ousadia de Kaneto Shindo (Onibaba, a Mulher Diaba) ou na transgressão de Shohei Imamura (A Enguia).

Por coincidência (ou não), na mesma ocasião em que se comemoram os 100 anos da imigração, sai no Brasil o indispensável História do Cinema Japonês, da italiana Maria Roberta Novielli (Editora da UnB, 452 págs., R$ 60), volumoso estudo da cinematografia japonesa, das origens aos dias atuais. O livro tem prefácio de Nagisa Oshima (Império do Desejo, presente na mostra com Tabu). Oshima recorda que o caminho do cinema japonês no Ocidente foi aberto por Kurosawa, quando venceu o Festival de Veneza com Rashomon, em 1951. A autora nota que essa presença internacional do cinema japonês seria reafirmada, 46 anos depois, quando Takeshi Kitano voltou a a ganhar um Leão de Ouro no mais antigo festival de cinema do mundo em 1997 com Hana-Bi - Fogos de Artifício. Até hoje Kitano é habitué de Veneza, embora não mais tenha sido premiado.

No entanto, as relações do cinema japonês com o Brasil se deram por outros caminhos, facilitados pela presença dos imigrantes. Um marco da cultura japonesa em São Paulo foi o cine Niterói, com 1.500 lugares, fundado em 1953 por Yoshikazu Tanaka, patriarca de uma família de imigrantes que havia enriquecido com o cultivo do feijão. O Niterói foi pioneiro, mas outros cinemas destinados aos filmes japoneses logo foram abertos no bairro da Liberdade, como o Nippon, o Tokyo e o Jóia. Centros difusores da cultura cinematográfica oriental no Brasil, não apenas deram entretenimento à comunidade, como influenciaram críticos e cineastas (leia depoimento de Carlos Reichenbach).

Dessa forma, talvez antes de se tornarem cults mundiais, os filmes de Ozu, Mizogushi, Naruse e Sugawa podiam ser vistos no então pacato bairro da Liberdade. No prefácio do livro de Lúcia Nagib, Em Torno da Nouvelle Vague Japonesa (Unicamp, 1993), Oshima assim descreve seu encontro com Glauber Rocha num hotel do Quartier Latin, em Paris: 'Para minha surpresa, fiquei sabendo que na década de 60 ele havia assistido a dois filmes meus, Conto Cruel da Juventude e Túmulo do Sol, numa sala de cinema do bairro oriental de São Paulo.' É dessa maneira que as culturas se comunicam e dialogam.

Até mesmo de maneira inesperada. O curador André Sturm lembra-se de quando era programador do Cineclube da Fundação Getúlio Vargas e queria produzir um ciclo de cinema japonês, já nos anos 80. 'Os filmes haviam desaparecido depois do fechamento dos cinemas da Liberdade, mas descobri um senhor idoso que morava nos lados de Interlagos e conservava numa edícula nada menos que 10 filmes de Kurosawa.' Sturm teve de negociar o empréstimo com o homem, inclusive

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Jornal O Estado de São Paulo

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