Mosteiro da Luz pode ter mais múmias |
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O Estado de São Paulo - 28.02.08 |
Mosteiro da Luz pode ter mais múmias
Especialistas analisam restos de 3.º corpo e suspeitam de existência de catacumba com até 40 freiras sepultadas
Sérgio Duran e Bárbara Souza
Um terceiro corpo com fragmentos de músculos nos ossos da mão é o indício de que pode haver outras múmias enterradas no Mosteiro da Luz, na região central. Ele está numa carneira (nicho) abaixo da que guardava duas freiras. Uma delas, com o corpo 80% preservado, é considerada a múmia em melhor estado já encontrada no País - pode ter quase 200 anos. As câmaras mortuárias foram abertas no dia 2, quando se fazia a descupinização de parte do Museu de Arte Sacra. A localização das múmias foi revelada pelo jornal Diário de S. Paulo.
Agora uma equipe de especialistas usará aparelhos de GPR (sigla em inglês de Radares de Penetração no Solo) para verificar se localiza outros cadáveres com o mesmo estado de conservação. Há a suspeita da existência de uma catacumba e uma análise preliminar de documentos históricos aponta para a possibilidade de 40 irmãs terem sido sepultadas no local.
A descoberta do terceiro corpo numa carneira foi divulgada ontem pelo arqueólogo Sérgio Monteiro da Silva, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Outras quatro câmaras mortuárias na mesma sala ainda serão avaliadas pelos especialistas. “Minha hipótese é de que esse corpo (o terceiro) era de uma múmia, mas pode ter sido devorado por cupins.”
Vizinha de parede da Igreja de Frei Galvão, que fica na entrada do mosteiro, a sala onde as múmias foram encontradas era usada para exposições do Museu de Arte Sacra. Nessa parede, há um pequeno altar e seis carneiras, onde os cadáveres eram depositados. No chão, próximo do lugar onde estavam as duas irmãs, há uma lápide onde se lê “Maria Caetana-1826”.
CATACUMBA
A data não coincide com os registros históricos, cujas cópias, fornecidas pelas irmãs concepcionistas do mosteiro, começaram a ser analisadas esta semana. Segundo os documentos, que registram nascimento, morte e votos das freiras, por exemplo, o último sepultamento no local aconteceu em 1821, data a partir da qual passou-se a usar o cemitério externo. O desencontro de informações levantou a suspeita da existência da catacumba, citada também pelas irmãs.
“Mas seria incomum para uma construção dessa época”, afirma Victor Hugo Mori, superintendente paulista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “O processo de pesquisa histórica foi iniciado agora. Após encontrados os corpos, o local foi fechado. O Iphan não vai permitir que se esburaque um sítio histórico atrás de restos mortais.”
A idéia de usar o GPR surgiu justamente para evitar as perfurações ou fazê-las somente nos locais onde alguma anomalia foi encontrada. A equipe planeja pedir ajuda à Sabesp, que tem aparelhos desse tipo.
O mesmo procedimento foi adotado durante o restauro da Capela de São Miguel (de 1622), em São Miguel Paulista, na zona leste, em 2006. Segundo a arqueóloga Lúcia Juliani, responsável pela prospecção do solo, só no altar da capela foram encontradas ossadas de 20 pessoas. “No passado, as pessoas eram sepultadas em igrejas ou muito próximo delas.”
http://www.estado.com.br/editorias/2008/02/28/cid-1.93.3.20080228.17.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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