Para parlamentares, é preciso humanizar a adoção |
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Estadão.com - 01.04.08 |
Para parlamentares, é preciso humanizar a adoção no Brasil
Cerca de 80 mil crianças e jovens esperam para ser adotados em abrigos; processo pode levar até 4 anos
Luciana Nunes Leal e Vera Rosa, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Atualmente, um processo de adoção no Brasil dura, em média, cerca de quatro anos graças a burocracia e as exigências de alguns futuros pais. Iniciativas que estão na Câmara dos Deputados e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pretendem agilizar os processos e possibilitar outro futuro para as cerca de 80 mil crianças e jovens que vivem em abrigos no País. Parlamentares que já passaram pelo demorado processo, como o deputado João Matos (PMDB-SC) e a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), afirmam que é preciso humanizá-lo.
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Leia a íntegra da Lei Nacional da Adoção
Há quase dois anos, o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, inscreveu-se, com a mulher, Floripis, a Flor, na lista de pretendentes à adoção no Juizado da Infância e da Adolescência de Brasília. De abril de 2006 para cá, ele viu de perto o excesso de burocracia e as carências do processo de adoção no País.
Depois de assistir a uma palestra e preencher um questionário indicando as características da criança que pretende adotar, o casal foi entrevistado por uma assistente social do juizado e depois recebeu em casa a visita de outro profissional, que pretendia conhecer o ambiente onde viverá o filho adotivo. Com as aprovações necessárias do juiz, o casal entrou oficialmente na lista de pretendentes em outubro de 2006. Como o tempo passava sem que tivesse notícia de uma criança disponível, Gilberto Carvalho passou a buscar alternativas em outras comarcas. "Mas eles informavam que teríamos que passar por todo o processo de novo: inscrição, preenchimento do questionário, entrevista, visita. Somente na comarca de União da Vitória, no Paraná, aceitaram que enviássemos o processo já aberto em Brasília. Mas levou três meses para o processo chegar lá. A alegação é que (o juizado) não tem recursos e acredito que seja verdade mesmo", diz o chefe de gabinete.
Carvalho e Flor escolheram uma menina, com idade de zero a dois anos, morena ou branca. "Vamos abrir a ficha para crianças mais velhas e também para as que têm um irmão", diz ele, na esperança de que, com essas medidas, em breve tenha uma ou duas crianças em casa. "Algo me diz que até agosto teremos resolvido", diz Gilberto Carvalho, de 57 anos, pai de dois rapazes e uma moça, do primeiro casamento. A esperança se mantém apesar de o casal saber que, na longa fila de espera, há cerca de 180 pretendentes na frente.
No caso da senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), a espera terminou em 2006, quando adotou Maria Beatriz, que completará três anos em abril. Cuidadosa em revelar os detalhes da adoção, diz que Bia "talvez seja a coisa mais preciosa" que aconteceu em sua vida. Mãe de três jovens de 19, 23 e 24 anos, a senadora afirma que viver a mesma experiência na maturidade foi "mais tranqüilo". "Com 19 anos eu era mãe. A adoção foi como a plenitude. As coisas já não me assustavam tanto", diz a senadora.
Patrícia lembra, no entanto, as dificuldades da adoção. "É um processo muito duro. A espera, a burocracia, a ficha para adoção em que você tem que dizer o sexo, a idade, a cor, se quer cabelo liso ou crespo, como se estivesse comprando um objeto. Acho que o processo deveria ser muito mais humanizado", diz Patrícia. A senadora afirma que vai "batalhar muito" para ser a relatora da Lei Nacional da Adoção, quando chegar ao Senado, se for aprovada no plenário da Câmara. Para ela, "só a experiência pessoal" é capaz de entender a realidade da adoção no País.
Este também é o sentimento do deputado João Matos (PMDB-SC), autor do projeto de lei. Em 1987, ele e a mulher, que já tinham três filhos adultos, resolveram adotar o menino Cleber, de 10 meses. O casal recebeu logo a guarda do bebê, entregue pela mãe que dizia não ter condições de criá-lo e, dois anos depois, a adoção foi forma
http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid148974,0.htm
Jornal O Estado de São Paulo
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