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Contracultura revisitada


O Estado de São Paulo - 14.04.08

Contracultura revisitada

O Sesc Pompéia abre amanhã o projeto Vida Louca, Vida Intensa, que reúne a produção de alguns dos maiores nomes da cultura alternativa dos anos 1960

Antonio Gonçalves Filho

Ao participar há algum tempo de um encontro que discutiu os movimentos sociais dos anos 1960, o antropólogo Gilberto Velho cunhou uma frase definitiva sobre a atitude transgressiva de escritores, músicos, cineastas e pintores que se rebelaram contra a cultura então dominante: 'A contracultura é uma possibilidade permanente da vida social.' O que Gilberto Velho quis dizer com isso é que a contracultura não foi um movimento restrito a uma época. Se a sociedade é dinâmica, é lícito esperar que seus membros mudem o tempo todo. 'A vida social só existe porque existe mudança, e só existe porque existe diferença', diz ele no livro Por Que Não? - Rupturas e Continuidades da Contracultura (Editora 7 Letras), leitura recomendável num momento em que o Sesc Pompéia se prepara para ser a sucursal da São Francisco dos anos 1960, a partir de amanhã, data de abertura do projeto Vida Louca, Vida Intensa - Uma Viagem pela Contracultura.

Organizado pelo designer Eduardo Beu, o projeto engloba projeções de filmes da época, uma exposição cenográfica com pôsteres, capas de discos, debates, leituras de poemas da geração beatnik, concertos com músicos estrangeiros e brasileiros e até uma performance para comemorar os 40 anos do histórico 'Verão do Amor' em São Francisco, a liberal cidade da costa oeste dos EUA, quando jovens ousaram contestar os valores mais sagrados da sociedade americana - como o dinheiro -, propondo seu estilo alternativo de vida: uma subcultura capaz de promover minorias e manifestações criativas subterrâneas e autônomas, sem compromisso com a indústria cultural de entretenimento.

Muitas pessoas confundem contracultura com o estilo de vida hippie dos anos 1960, mas o projeto Vida Louca vai mostrar durante dois meses que é um equívoco opor movimentos contraculturais à negação do conhecimento acadêmico ou universitário. Escritores beatniks nunca foram iletrados, assim como os designers que revolucionaram a arte gráfica da época, os pintores que inventaram a arte pop ou os cineastas underground que produziram alguns dos melhores filmes experimentais de todos os tempos. Alguns deles, raríssimos, foram resgatados pelo curador Eduardo Beu em lugares como a Biblioteca do Congresso americano, como The Hippie Revolt, documentário (também conhecido como Something's Happening) - ingênuo, mas histórico - dirigido por Edgar Beatty em 1967, que mostra jovens de Sunset Strip, Los Angeles, ou do bairro Haight-Ashbury, São Francisco, em viagens alucinantes de ácido lisérgico (LSD) ou simplesmente dançando em discotecas com projeções psicodélicas sobre seus corpos.

Eduardo Beu e os jovens que devem ser atraídos pela mostra nem eram nascidos quando Peter Fonda e Dennis Hopper colocaram os pés na estrada e fizeram o filme-síntese da geração 1960, Sem Destino (Easy Rider, 1969), um dos programados da mostra de cinema que traz, entre outras atrações, o revolucionário If (Se, 1969), de Lindsay Anderson, sobre estudantes de um colégio burguês inglês que se armam e iniciam uma revolução em pleno campus. Aos 36 anos, o designer Beu revela um interesse não meramente antropológico sobre o fenômeno contracultural. Para ele, filho pródigo de uma família burguesa, a 'crítica ao sistema' que jovens artistas e músicos fazem no século 21 não apagou os traços de uma herança que se traduz, segundo Beu, especialmente no mundo virtual da internet, prova maior da continuidade do projeto da contracultura, que sobrevive na construção gráfica de sites, nos filmes amadores colocados no YouTube ou simplesmente nos projetos pessoais que circulam pela rede. 'Não se trata de simples nostalgia dos anos 1960, mas da continuidade de uma cultura que conquistou a liberdade de expressão, permitindo a afirmação de uma ótica subjetiva, independente e avessa a idéias predeterminadas', diz Beu.

A

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Jornal O Estado de São Paulo

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