Instituição luta para ficar no centro |
|
|
O Estado de São Paulo - 02.06.08 |
Instituição luta para ficar no centro
Prefeitura já fez até deposito judicial para assumir prédio de Conservatório
Renato Machado
O Conservatório Dramático Musical de São Paulo enfrentou muitas batalhas em 102 anos de história. Em 1941, durante a 2ª Guerra Mundial, sofreu intervenção do governo federal, pois havia muitos músicos italianos na instituição e se desconfiava que ali seria um centro de reunião de fascistas. Lidou décadas mais tarde com a repressão da ditadura militar, que perseguiu os intelectuais que freqüentavam o espaço. Agora, a luta da instituição é para manter seu espaço e acervo.
Um decreto do então prefeito José Serra, de janeiro de 2006, determinou a desapropriação - mediante acordo ou decisão judicial - de 6 mil metros quadrados na região central de São Paulo para a construção da Praça das Artes. Isso inclui a área do Conservatório, que fica na Rua Conselheiro Crispiniano (a entrada original era feita pela Avenida São João, mas foi fechada para obras em 1982 e permanece assim).
Inaugurado em março de 1906 para atender à demanda por cultura da classe alta paulistana, o órgão funcionou inicialmente na antiga residência da Marquesa de Santos, na Rua Brigadeiro Tobias. Três anos e vários concertos depois, o grupo fundador conseguiu recursos e o apoio do poder público para adquirir o prédio da Avenida São João.
Foi nessa sede que um dos principais literatos brasileiros revelou seu talento para outra forma de arte. O escritor modernista Mário de Andrade começou a estudar piano na instituição aos 18 anos, graduou-se e depois foi professor de História da Música, de Arte e Estética Musical até poucos anos antes de sua morte, em 1945. Outros nomes importantes para a música clássica mundial também lecionaram no Conservatório, como Gomes Cardim e Samuel Arcanjo e os italianos Luigi Chiaffarelli, Giulio Bastiani e Giacomo Foschini.
“É uma história que não pode ser simplesmente tomada e, por isso, não queremos sair”, diz o diretor, Julio da Cruz Navega Neto. “Em qualquer lugar do mundo, uma casa dessas receberia o apoio da Secretaria de Cultura e da comunidade. Aqui, querem nos expulsar.”
A diretoria do Conservatório iniciou uma luta na Justiça para impedir a desapropriação. O principal argumento é de que o prédio está tombado pelo Patrimônio Histórico. Portanto não poderá ser demolido ou usado para outros fins. Para o advogado da instituição, Luiz Arthur Godoy, o imóvel também tem um valor histórico muito grande, o que dificulta determinar com exatidão um preço.
A Prefeitura, porém, já obteve uma liminar em favor da desapropriação. Após uma avaliação provisória, ficou determinado que o imóvel vale R$ 4,1 milhões, quantia que já foi depositada em juízo pela administração municipal. A defesa entrou com um recurso contra a liminar, em análise pelo Judiciário.
Outro decreto, de março de 2006, declarou de utilidade pública todo o acervo do Conservatório. A biblioteca da instituição conta com cerca de 7 mil volumes, entre livros, partituras e prontuários de professores e alunos, muitos datados da fundação. Tudo pode ser repassado para o poder público. Ali, há peças raras, como uma Bíblia em latim, de 1856; a partitura encadernada Die Shöne Müllerin, de Franz Schubert; e manuscritos dos maestros Gomes Cardim e João Gomes de Araújo.
“Se tirar o prédio, os livros e as partituras, aí vão ficar meia dúzia de pianos nas ruas. Não tem nem como dar continuidade ao cursos superiores de Música, porque o MEC (Ministério da Educação) exige que as instituições tenham biblioteca”, diz o músico e professor Ricardo Rossetto Mielli, que foi o regente da orquestra da instituição na missa de canonização de Frei Galvão - da qual participou o papa Bento XVI.
LIMITAÇÃO
O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, diz que esse material não está cumprindo seu papel, porque está restrito aos alunos e professores. Além disso, Calil diz que o acervo está em péssimo estado de conservação. “O Conservatório tem uma memória muita rica que está toda abandonada. Nós queremos levar tudo para o pré
http://txt.estado.com.br/editorias/2008/06/02/cid-1.93.3.20080602.18.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|