De volta à São Paulo do lampião a gás |
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O Estado de São Paulo - 04.06.08 |
De volta à São Paulo do lampião a gás
Exposição permanente no Brás mostra a evolução do combustível e dos costumes na metrópole do século 20
Vitor Hugo Brandalise
Na São Paulo térrea das primeiras décadas do século 20, duas estruturas metálicas circulares da altura de um prédio de dez andares serviam de ponto de referência à população. “Moro perto do balão” ou “Vire à direita no balão” eram frases comuns naquele tempo, entre os moradores do bairro operário do Brás, centro de São Paulo. Pela manhã, os balões de metal - os gasômetros, depósitos de armazenamento de gás - estavam sempre cheios, inflados até o topo. Ao meio-dia, com os fogões ligados nas casas para o preparo do almoço, os depósitos começavam a esvaziar - e os anéis de metal desciam até a estrutura ficar toda murcha, às margens do Rio Tamanduateí.
Para relembrar histórias e imagens como essas, que já fizeram parte do dia-a-dia dos moradores da metrópole, mas que andam esquecidas, será aberta hoje no Complexo do Gasômetro, centro de São Paulo, uma exposição permanente com tema insólito: o gás. “A idéia é mostrar que o gás, de cozinha, aquecimento ou iluminação, esteve sempre presente, acompanhando as modificações na cidade”, diz a coordenadora de investimento social privado da Comgás, Gisela Girotto.
Além dos balões - que funcionaram entre 1890 e 1978, quando o gás utilizado na cidade era extraído do cozimento de carvão mineral -, serão relembradas figuras pitorescas e já extintas do cotidiano da cidade. Um exemplo são os “vaga-lumes”, funcionários encarregados de, com vareta de metro e meio em mãos, apagar e acender os lampiões. Na Casa de Compressão, há até uma maquete holográfica de um deles - um senhor, que acende um lampião à noite, senta em um banquinho, e o apaga ao amanhecer. “A exposição não fica só na história da distribuição do produto, mas nos costumes e evolução da sociedade”, afirma Gisela.
A exposição começa na Praça da Figueira, no centro da estrutura em que se apoiava um dos balões metálicos. Com a ajuda de painéis com 19 fotos, os monitores contam a história do bairro, a partir da inauguração da The San Paulo Gas Co. Ltda - hoje a empresa Comgás - em 1872. No local, também há depoimentos de moradores da época e letras de músicas que remetam ao tema, como “Lampião de Gás”, gravada por Inezita Barroso, em 1958.
Depois, o grupo segue para a Casa da Compressão, onde assistem a um vídeo de dez minutos sobre a história e produção do gás, da extração do carvão até a formação do produto. “Após cozimento de 8 a 12 horas, em fornos com temperatura de 900 graus, o gás de carvão é formado”, aprendem os visitantes. Ali, estão preservados dois compressores originais de 1922, que serviam para que o gás adquirisse a pressão para atingir bairros distantes, como Pinheiros, por exemplo.
Em três vitrines, estão expostos cerca de 50 objetos ligados aos trabalhadores da antiga companhia e do relacionamento da população com o “novo produto” gás de cozinha. “Notem que a maioria das propagandas da época era direcionada às mulheres, as ‘donas dos fogões’”, ensina uma das guias, a professora de história Viviane Lima, apontando para uma revista Light, do começo do século. Está exposta, também, uma cápsula do tempo, enterrada na época da construção e redescoberta na década de 1950 - dentro dela, notas de 500 e 1 mil réis e jornais datados de 2 e 3 de setembro de 1886.
Após o panorama histórico, os visitantes seguem para um conjunto de painéis ao ar livre que explicam as últimas descobertas relacionadas ao tema, como as da Bacia de Santos. O local onde a exposição ficará permanentemente, o Complexo do Gasômetro, é tombado e foi reinaugurado em fevereiro, após revitalização orçada em R$ 38 milhões. As visitas são gratuitas e podem ser marcadas às quartas e sextas-feiras (0xx11 3333-5600), às 9h30 e às 14 horas. A visita leva duas horas.
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O Estado de São Paulo
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