Nasa deve lançar novo observatório orbital |
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O Estado de São Paulo - 05.06.08 |
Nasa deve lançar novo observatório orbital
Equipamento será capaz de detectar até os fenômenos mais sutis, como a existência do neutralino, que seria o principal componente do Universo
Carlos Orsi
A Nasa prevê lançar, neste mês, um novo observatório orbital criado para detectar desde os fenômenos cósmicos mais violentos, como a colisão de buracos negros, até os mais sutis, como os primeiros sinais do neutralino, uma partícula prevista em teoria, que poderá se revelar o principal componente da misteriosa matéria escura que responde por 85% de tudo que há no Universo. A matéria comum, que faz estrelas, planetas e pessoas, não passa de 15%.
O observatório chama-se Glast, sigla em inglês para Telescópio Espacial de Grande Área para Raios Gama. Planos para sua construção começaram em 1992.
O físico brasileiro Eduardo do Couto e Silva, da Universidade Stanford, é vice-diretor de operações científicas do principal instrumento do satélite. Ele destaca a capacidade que o Glast terá de separar sinal de ruído, sintonizando raios gama “como um rádio sintoniza uma estação, reduzindo a estática”.
“Os raios gama têm uma penetração na matéria muito maior que a dos raios X”, explica Couto e Silva. “Não dá para refleti-los e focá-los, como se faz com luz comum. Para capturar as partículas, ou fótons, de raios gama, usaremos um meio sólido muito denso.”
Além da existência da matéria escura, o Glast poderá confirmar outras previsões polêmicas ligadas à astrofísica e à física de partículas, como variações na velocidade aparente da luz no vácuo. “Descobertas assim estarão no limite do aparelho”, diz Couto e Silva. “Se forem feitas, é provável que só surjam depois de muita análise dos dados.”
A teoria do neutralino prevê que a partícula pode se aniquilar, criando raios gama. “Seria preciso, primeiro, confirmar se o neutralino existe e, depois, ver se ele realmente é o responsável pela matéria escura. São questões separadas”, diz Couto e Silva, destacando que uma detecção do tipo terá de ser checada com várias outras fontes. “Se confirmada, poderia até ser coisa de Prêmio Nobel”, afirma.
Já variações aparentes na velocidade da luz - que, segundo a Teoria da Relatividade, é constante no vácuo - poderiam surgir se fótons de energias diferentes tiverem, também, velocidades diferentes, por conta de efeitos ligados à física quântica. “Mas a diferença seria minúscula. Para percebê-la, precisamos de fontes muito distantes, para haver um percurso longo o suficiente que permita notar a discrepância”, diz o físico. “Essas fontes são as Explosões de Raios Gama (GRBs, na sigla em inglês). Vamos tentar ver se dois fótons, vindos do mesmo lugar, chegam ao mesmo tempo.”
Os GRBs são os fenômenos mais energéticos do Universo, emitindo, em instantes, mais energia do que o Sol produzirá em bilhões de anos. “As duas teorias prediletas para explicar essas explosões, hoje, são o colapso de uma estrela de massa muito grande ou a colisão de dois buracos negros”, diz Couto e Silva. “Com o Glast, poderemos distinguir as características previstas na teoria para cada caso.”
Outro cientista ligado ao projeto, David Thompson, da Nasa, diz que os raios gama vindos do espaço não ameaçam a Terra. “Um GRB na vizinhança do Sol é extremamente improvável: só vemos um ao dia, no Universo todo. Falar da ameaça de GRBs é como falar do risco que um urso polar correria se aparecesse de repente no armário de uma casa aí no Brasil. Não faz sentido.”
http://www.estado.com.br/editorias/2008/06/05/ger-1.93.7.20080605.7.1.xml
O Estado de São Paulo
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