A universidade que queremos |
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O Estado de São Paulo - 27.06.08 |
A universidade que queremos
Vahan Agopyan
Entre 26 e 30 de outubro, a Universidade de São Paulo (USP) realizaria seu congresso, no qual representantes do corpo discente, docente e funcionários não-docentes discutiriam o modelo de universidade desejada, inclusive pensando novo estatuto. O evento foi abortado por alguns grupos que exigiram a dispensa dos cerca de 15 mil funcionários para participarem das reuniões, com o que a Reitoria não concordou. Na prática, a Reitoria não impediu a participação de ninguém e deu todo o apoio ao evento: transporte, alojamento, alimentação, infra-estrutura para videoconferência e para IPTV, locais (anfiteatro e salas), serviços de impressão. A iniciativa de realizar o evento só pode ser elogiada, pois as universidades são corpos vivos que devem ser aprimorados continuamente para que possam atender aos anseios da sociedade.
Inicialmente estava entusiasmado pelo envolvimento do corpo discente, pois é o maior patrimônio das universidades e a mola propulsora para sua evolução. No entanto, por vários motivos as entidades estudantis acabaram sendo contaminadas pelas associações docentes e de funcionários não-docentes, que têm um passado glorioso, mas há pelo menos duas décadas estão nas mãos dos mesmos grupos, sofrendo pelo longo continuísmo e falta de renovação.
Assim, uma iniciativa louvável estava sendo conduzida de maneira minúscula, intramuros e com forte abordagem corporativa, e acabou sendo interrompida. Uma atitude perversa para o desenvolvimento da instituição.
Os seis temas do congresso cobrem um amplo espectro, incluindo um “plano de luta” para a instalação de estatuinte democrática e soberana. Imaginam-se mudanças profundas, sendo discutidas de forma paritária por representantes de alunos, docentes e funcionários não-docentes. Esses delegados representam um universo de cerca de 100 mil pessoas que se autonomeiam entendidas no tema. Curiosamente, os usuários das atividades de cultura e extensão da universidade foram excluídos. E os demais 99,75% da população de São Paulo, que mantém a USP, devem se contentar com a condição de espectadores passivos. As torres de marfim duramente criticadas no começo do século 20 e que conduziram aos modelos modernos de universidades, inclusive adotados pelas pioneiras do País, como a própria USP, estão sendo reedificadas, agora de uma forma mais conservadora, ousaria dizer pré-humboldtiana, distorcendo a função da universidade na atualidade.
Outro aspecto preocupante, tema principal das discussões preparatórias, é sobre a governança da universidade, principalmente a forma de eleição do(a) reitor(a), e que as decisões devem ser tomadas por comissões paritárias. Como se o exercício do poder fosse o grande problema da USP. Hoje a tarefa da Reitoria é conseguir conduzir a universidade com parcos recursos. Quem não está familiarizado com a USP precisa saber que cerca de 85% do orçamento é para a folha de pessoal (ativo e aposentado) e o restante para as atividades de custeio. Os recursos extra-orçamentários vêm para atividades específicas, sem passar pela ingerência da Reitoria.
O reitor da USP não tem residência funcional, não recebe cartão corporativo, as diárias de viagens permitem apenas uma conduta espartana e o adicional pecuniário é uma pequena fração do seu salário, insuficiente para os gastos pessoais que tem pelo cargo ocupado. O que o reitor tem é o prestígio pela instituição que representa e pelo cargo até hoje ocupado apenas por grandes lideranças acadêmicas. Além disso, o atual estatuto (1988) já dilui o poder em colegiados constituídos predominantemente pelos docentes, restando pouco poder decisório aos dirigentes. Esse, a meu ver, é o grande problema de gestão da USP. Impede o dinamismo das atividades e prolonga discussões sem as concluir, como as propostas de novos cursos e disciplinas emperradas por anos nas diversas comissões.
Outro ponto muito aventado nas reuniões preparatórias foi o de tornar a USP não só independente do governo estadual, mas do próprio Estado. Pela Constituição, a única ingerência do governa
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