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Opinião: Além dos nossos limites


Globo.com - 10.07.08

Opinião: Além dos nossos limites

Dois portadores de paralisia cerebral foram muito além do que se poderia supor.

Apesar de suas limitações motoras, eles são pessoas privilegiadas.
Ana Cássia Maturano

Especial para o G1

Uma das coisas que não sabemos direito é quais são nossos limites e os dos outros. Já ouvimos histórias de pessoas que lutam com feras para salvar seus filhos. Se pensássemos em uma situação assim, consideraríamos isso improvável.

Recentemente, fomos positivamente surpreendidos pela história de duas pessoas portadoras de paralisia cerebral que foram muito além do que se poderia supor. A primeira foi a de Flávia Cristiane Fuga e Silva que concluiu a faculdade de direito e recebeu sua carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), qualificando-se para advogar. A outra foi a de Eduardo Purper, estudante de jornalismo, que para concluir sua faculdade necessitava fazer uma monografia. Devido às suas limitações motoras e visuais, ele optou por um ensaio acadêmico gravado no qual obteve a nota 9,5.

A paralisia cerebral é uma lesão de alguma parte do cérebro que tem como consequência dificuldades motoras. Dependendo da região atingida, ela pode afetar a capacidade intelectual do portador. Quando vemos uma pessoa assim a impressão é a de ser alguém com uma séria limitação intelectual, principalmente quando tem a fala atingida.

O pré-conceito e as aparências enganam, às vezes aos próprios portadores de alguma deficiência. Ocupamos lugares que designam para nós. Seja esse lugar o de um incapaz ou de uma pessoa extremamente capaz, não ajuda se não for o seu lugar.

Flávia e Eduardo, apesar das dificuldades que têm e que não devem ser nada fáceis para eles, contaram com uma família que teve um olhar para além do que viam. Perceberam que eles tinham condições de ir em frente e lutaram por isso (não esperaram a “boa vontade” de ninguém). As escolas em que estudaram foram parceiras, criando condições para isso. Apesar de tudo, eles foram privilegiados.

A questão é: quantas pessoas que apesar de apresentarem alguma dificuldade, seja física, intelectual ou emocional, teriam possibilidade de irem além caso tivessem um olhar diferente do outro? Quantos falsos débeis existem por aí?

Observa-se certa mudança no modo como se tem visto o portador de alguma limitação, mas ainda assim parece se restringir à esfera do que chamam de politicamente correto. Como é difícil convivermos com o diferente. E isso não se restringe só a características claramente visíveis, mas de qualquer coisa que foge do esperado.

Algumas pessoas, por dificuldades emocionais, por exemplo, apresentam um forte retraimento e certa inibição de sua intelectualidade. Muitas são encaradas como pessoas limitadas intelectualmente e desinteressadas, mesmo não sendo. Se uma pessoa não aprende, algum motivo tem. Se forem trabalhadas adequadamente em suas dificuldades poderão se desenvolver – dentro de seus reais limites – mesmo aquelas com limitação intelectual. O grande perigo é a pessoa se refugiar nas suas limitações de modo a não se desenvolver, usando-as como desculpas para tudo e encaixando-se no estereótipo criado para ela.

O reverso dessa história é a superestimação do outro, daquilo que supomos que seja mas não é. Todos temos limitações reais. Se não tivermos essa noção, poderemos viver frustrados por cairmos na idéia de que somos fracos e sem explorarmos nossos reais potenciais, até onde podemos ir. Acabamos vivendo tentando provar ao mundo aquilo que não somos. E perdemos de vista quem realmente somos.

Gostaria de terminar esta reflexão com uma fala de Eduardo Purper: "Na verdade, cheguei até aqui porque tenho algo que muitos deficientes não têm: apoio da família. Sempre me ensinaram a não supervalorizar minhas limitações e explorar minhas capacidades". Isso já diz tudo.


(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL639437-5604,00.html

globo.com

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