> Sistema Documentação
> Memorial da Educação
> Temas Educacionais
> Temas Pedagógicos
> Recursos de Ensino
> Notícias por Temas
> Agenda
> Programa Sala de Leitura
> Publicações Online
> Concursos & Prêmios
> Diário Oficial
> Fundação Mario Covas
Boa noite
Quinta-Feira , 01 de Maio de 2025
>> Notícias
   
 
Árvores escalam montanhas para fugir do calor


O Estado de São Paulo - 31.07.08

Árvores escalam montanhas para fugir do calor

Fernando Reinach*

Mesmo quem nunca esteve nos Alpes sabe como é o verão na região. Cartões-postais mostram vacas pastando ao lado de riachos em vales verdejantes. Ao fundo, observamos montanhas com florestas nas encostas e neve nos picos. Se você caminhar do fundo de um desses vales em direção ao topo da montanha vai observar que a vegetação se altera à medida que você sobe. O pasto é substituído pela floresta, e esta vai se tornando mais rala até que desaparecem as árvores. Após certa altura deixa de existir qualquer vegetação.

A mudança é conhecida dos ecologistas. Como o clima se altera à medida que subimos, diferentes espécies de vegetais ocupam cada nível da montanha. Espécies adaptadas ao frio ficam próximas ao pico, espécies adaptadas à temperaturas mais altas ficam próximas ao vale. A mesma distribuição ocorre horizontalmente quando viajamos da região tropical em direção aos pólos. Perto dos trópicos predominam espécies adaptadas ao calor. À medida que nos aproximamos dos círculos polares encontramos, na mesma altitude, espécies que nas montanhas ocupam a região próxima aos picos nevados. O paralelo é tão claro que nos cursos de ecologia aprendemos que um deslocamento vertical de algumas centenas de metros equivale a um deslocamento horizontal de alguns milhares de quilômetros.

Nas montanhas européias esse fenômeno tem sido estudado há mais de cem anos. Cada espécie de árvore tem sua altitude preferencial. Para medi-la, o cientista sobe a montanha e mede a densidade (número de árvores por metro quadrado) de uma espécie de árvore a cada altitude. A densidade, que inicialmente é baixa, aumenta, chega ao máximo e finalmente diminui quando a temperatura fica muito baixa. A altitude preferencial é a altitude onde a densidade de árvores é máxima.

Recentemente um grupo de ecologistas coletou os mais de 28 mil levantamentos do tipo feitos entre 1905 e 2005 para 160 diferentes espécies de plantas nas seis cordilheiras européias. Eles dividiram os levantamentos em dois grupos: antes e depois de 1985. Quando os grupos foram comparados, eles observaram que a altitude preferencial da maioria das espécies se deslocou para altitudes maiores ao longo do século. Todas as árvores \"subiram\" a montanha. Na média, subiram 30 metros por década durante o século XX.

Os cientistas acreditam que isso ocorreu por causa do aquecimento global. À medida que a temperatura na Europa aumentou , as árvores da faixa mais baixa não conseguiram sobreviver, mas em compensação as sementes que germinaram em alturas antes inóspitas agora encontraram um ambiente propício.

Essa é mais uma conseqüência do aquecimento global, as árvores são obrigadas a subir as montanhas para escapar do calor. É fácil imaginar o que vai ocorrer quando, após subirem 30 metros por década, elas não tiverem mais para onde ir.

*Biólogo - fernando@reinach.com

Mais informações em: A significant upward shift in plant species optimum elevation during the 20th century. Science vol. 320, pág. 1.768, 2008.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080731/not_imp214864,0.php

O Estado de São Paulo

Para mais informações clique em AJUDA no menu.

 





Clique aqui para baixar o Acrobat Reader