Jovens no mundo virtual: ofensas e violência |
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Folha de São Paulo - 06.10.08 |
Jovens enfrentam ofensas e violência no mundo virtual
RAFAEL BALSEMÃO
da Revista da Folha
Alice* tinha 17 anos e cursava o segundo ano do ensino médio no Colégio Faap, em Higienópolis, zona oeste. Estava há dois anos na escola quando fez uma descoberta chocante. Haviam sido criadas anonimamente duas comunidades no Orkut contra ela: \"Eu odeio a tosca da Alice\", destinada, segundo descrição da página, \"a todos que odeiam essa menina que se acha!\", e uma outra com referências preconceituosas ao Estado de origem de sua mãe.
Diante do teor dos ataques, a família da estudante achou melhor tirá-la do colégio. Na nova escola, descobriu que a história tinha se disseminado. A solução foi mandar Alice para fora do país, em um programa de intercâmbio, enquanto eram tomadas providências legais para a retirada das páginas do ar e o rastreamento do autor ou dos autores.
Alice estava no centro de um caso de \"bullying\" virtual ou \"ciberbullying\", fenômeno que transfere para a internet as agressões típicas que estudantes mais frágeis ou mais visados sofrem dentro dos muros da escola. Enquanto o clássico \"bullying\" acontece na sala de aula, no playground e nos arredores do colégio, a versão no ciberespaço transcende os limites da instituição de ensino.
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Hostilidades sempre existiram no ambiente escolar, mas elas se potencializam na rede mundial de computadores, diante da facilidade atual de criar páginas e comunidades na internet.
Para humilhar colegas de escola, os meios utilizados vão desde e-mails e mensagens de celular injuriosas, passando por fotografias digitais e montagens degradantes, a blogs com mensagens ofensivas. Os ataques também tomam forma em vídeos humilhantes e ofensas em salas de bate-papo.
\"No mundo real, a agressão tem começo, meio e fim. Na internet, ela não acaba, fica aquele fantasma\", compara Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de prevenção da SaferNet Brasil, ONG cujo foco é desenvolver trabalhos contra a pornografia infantil na web.
O resultado preliminar de uma enquete sobre segurança na internet realizada no site da ONG (www.safernet.org.br) assusta: 46% de 510 crianças e adolescentes que responderam ao questionário a?rmam que foram vítimas de agressões pela internet ao menos uma vez; 34,8% dizem que foram agredidos mais de duas vezes. \"Não é apenas uma brincadeirinha. As conseqüências são graves e prejudicam demais as vítimas\", ressalta Rodrigo. Dos participantes do levantamento, 31% são de São Paulo, Estado onde, segundo a SaferNet, há o maior número de relatos de \"ciberbullying\".
Na delegacia
Pais e educadores vão aprendendo a lidar com o problema. Em São Paulo, as escolas engatinham ao se deparar com o fenômeno. Os ataques a Alice começaram em 2005, mesmo ano em que a mãe da jovem acionou a Justiça. \"A adolescente estava completamente abalada quando chegou ao escritório\", recorda o advogado contratado pela família da vítima, José Luis de Oliveira Lima, 42.
O processo, que só terminou em julho deste ano, é exemplar, ao tratar agressões pesadas como caso de polícia. \"Foi uma guerra. Não existe regulamentação civil que coloque ordem na casa\", diz José Luis. Todos os que postaram mensagens ofensivas nas duas comunidades contra a estudante foram chamados perante o delegado e/ou o juiz. Diante da prova --as páginas copiadas e anexadas ao processo-, admitiram o \"ato infracional\".
A polícia conseguiu chegar ao computador que originou as comunidades. Era de uma colega de classe de Alice. A única relação entre as duas era o fato de a garota insultada na internet ser a melhor amiga do então namorado da autora das páginas. Procurada pela Revista, a direção do Colégio Faap não quis se manifestar.
Diante dos pais e advogados, os estudantes levaram mais que um puxão de orelha. Foram tratados como infratores. Mas, como não tinham antecedentes, a eles foi concedida remissão, espécie de perdão judicial.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u452864.shtml
Folha de São Paulo
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