Estudantes de favela encenam peça em francês |
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g1.globo.com - 27.11.08 |
Estudantes da favela Paraisópolis encenam peça em francês
Projeto é de uma professora da rede municipal.
Aulas são dadas na segunda maior favela de São Paulo.
Carolina Iskandarian
Do G1, em São Paulo
“Oui”, “bonjour”, “salut”, “merci”. Difíceis no começo, as palavras em francês agora saem com facilidade da boca de alunos da 4ª série de uma escola municipal em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo. Após três anos de intensivo e alguns tropeços com a pronúncia, a turma se forma no sábado (29) e encerra o ano com duas peças de teatro encenadas na língua francesa.
A idealizadora de tudo é a professora Helena Santos da Silva, de 42 anos, que encontrou nos estudantes estímulo para tocar um projeto pessoal. Para garantir a bolsa de estudos em francês concedida pela prefeitura, ela deveria desenvolver alguma atividade de cunho social. Apostou naquilo que faz de melhor: dar aula. Assim, começou a ensinar um novo idioma a quem nunca tinha ouvido uma sequer palavra dele.
“É demais. É uma nova língua”, conta Sabrina Lopes da Silva, de 10 anos, que fará a personagem principal na peça Pocahontas. “É uma responsabilidade, treino todo dia. Na hora, não pode ler o papel, mas eu já decorei tudo”, afirma ela. Desinibida, a menina repete o que aprendeu em sala: “je m’appelle (eu me chamo)”, “salut (oi)”, “bonjour (bom dia)”. “Eu não sou envergonhada porque já estou acostumada (a falar francês)”, brinca ela sem falsa modéstia.
Na peça, a indiazinha interpretada por Sabrina se apaixona por um príncipe inglês. Uma rápida história de amor, que será encenada no pátio da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef), conhecida como Casarão, onde a turma estuda. Um pouco mais agitado é o espetáculo “Le carnaval à l’école (o carnaval na escola)”, que tem dança com música francesa e tudo. Crianças colocam fantasias e tudo termina em um animado baile.
Aprendizado rápido
A professora Helena estuda francês desde 2004 e viu que poderia aprender mais se repassasse a seus alunos o que viu no cursinho. O pontapé inicial de tudo partiu de um garoto que, de tão tímido, ficava retraído nas aulas. “Eu disse para ele que me sentia igual na aula de francês porque ainda não sabia ler e nem falar. Os olhinhos dele brilharam. Aí vi que era por ali”.
O método de ensino foi o mais simples possível. Para garantir que as crianças memorizassem rapidamente o vocabulário, Helena misturou o francês nas disciplinas do dia-a-dia. “Na aula de matemática, jogávamos bingo e os números eram ditos em francês. Na aula de ciências, ensinei as partes do corpo em francês. Sempre achei interessante ensinar uma outra língua às crianças”, diz Helena.
O G1 acompanhou o ensaio de segunda-feira (24). As crianças parecem saber o texto de cor. Não fosse a timidez pela presença de uma estranha na platéia, não teriam tropeçado em algumas palavras. Mas na hora em que a professora colocou “La Marseillaise”, o hino nacional da França, todos cantaram a plenos pulmões.
“No começo, foi difícil porque o português se fala do jeito que se escreve e o francês não”, atesta André Sales, de 10 anos. Ele diz que planeja seguir em frente nas aulas do idioma para poder “viajar para outro país e ajudar a arrumar emprego”. Os 64 alunos da professora Helena estavam tão afinados que aprenderam o Pai-Nosso na língua estrangeira.
“Devagarzinho, a gente vai conseguindo. É bom falar uma língua nova. Minhas amigas pedem para eu falar com elas. Digo ‘bonjour’, ‘comment ça va? (como vai)’”, diz, animada, Rithila Rodrigues de Melo, 10.
Resistência
Tão difícil quanto ensinar outro idioma foi vencer a resistência de alguns pais. De acordo com Helena, a mãe de um aluno, por não falar francês, insistia que o filho também era incapaz de pronunciar as palavras. “Ela transferiu o trauma dela para o menino. Disse que ele não falava francês em casa, mas aqui ele fala. Você tem que trabalhar direto a auto-estima das crianças”, conta a professora.
Helena é a única que sabe francês entre os docentes da EMEF. E, provavelmente, é a única a ensinar o idioma na f
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL880051-5605,00.html
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