Gerson, aluno de escola pública ganha 4ª medalha |
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Folha Online -10.02.09 |
Aluno de escola pública, Gerson ganha 4ª medalha em olimpíada e passa na USP
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
da Folha de S.Paulo
O calendário de 2009 disposto sobre a mesa de estudos de Gerson Tavares de Souza exibe gênios da ciência como Albert Einstein, Gregor Mendel e Dmitri Mendeleiev. Mas a cabeleira, que não foi raspada, despista os méritos que o garoto de 18 anos de um bairro da zona leste conseguiu.
No intervalo entre terça e quarta-feira da semana passada, ele conseguiu a medalha de ouro de uma olimpíada de matemática (a quarta seguida de sua coleção) e foi aprovado no curso de engenharia elétrica no vestibular da USP.
Desde sempre aluno de escola pública, filho de vidreiro e empregada doméstica aposentados, Gerson fez ontem o primeiro percurso de Aricanduva, onde mora, ao campus da universidade, no Butantã (zona oeste). Levou duas horas e meia em dois ônibus só para ir.
Do emprego com carteira assinada, por dois salários mínimos numa empresa de automação industrial (que conseguiu depois de um estágio remunerado), teve de abrir mão porque a faculdade é em tempo integral.
E foi justamente por causa desse trabalho que teve de fazer o ensino médio à noite. Segundo diz, só restavam os finais de semana para estudar. "Não sou gênio, só dei muita sorte. Tenho um talento que descobri e desenvolvi com esforço."
Desde a medalha de ouro na primeira olimpíada, em 2005, Gerson ganhou um curso de iniciação científica (de fundamentos em matemática) como premiação. As aulas, de oito horas, eram aos sábados e duravam até o concurso do ano seguinte. Pelo estudo, ele recebia uns R$ 100 de ajuda de custo.
"Não sou CDF, sou mais esforçado", conta meio tímido e bem disciplinado entre os 30 livros de matemática que ganhou da escola estadual ou da olimpíada.
Em abril, Gerson deve receber a quarta medalha (ele é o único tetracampeão da Obmep --Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas-- no país) das mãos do presidente Lula.
E por que a turma não gosta da matéria? "As pessoas não pensam com clareza. A matemática não é tão abstrata." Como assim? "Vejo a matemática aplicada em tudo. Olha esse semáforo [ele mostra]. O funcionamento dele é matemático. O do computador também", diz Gerson, que sempre foi aluno "nota dez". Menos em português, história e geografia, em que tirava nove.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u501541.shtml
Folha Online
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