Jornal da Tarde - 03.03.09

Obra revela trilhos de bonde

Operários da Prefeitura alteravam calçada na Rua Veneza quando acharam as estruturas

Carolina Dall’ólio e Luísa Alcalde

Debaixo do asfalto da Rua Veneza, nos Jardins, zona sul de São Paulo, havia trilhos de um bonde que circularia na região no século passado. Mas ninguém sabia disso. A descoberta foi feita acidentalmente, no último sábado, por funcionários da Subprefeitura de Pinheiros que executavam uma obra no local do projeto Canteiros Verdes, da Prefeitura.

A subprefeitura iniciou no fim de semana a troca da calçada atual por um modelo permeável, que absorve parte da água das chuvas. Ao retirar o concreto, os operários se depararam com os equipamentos. “O problema é que em vez de estudar o que faria com os trilhos, que têm valor histórico para a cidade, a equipe da subprefeitura foi logo tirando tudo dali”, conta Célia Marcondes, presidente da Associação dos Moradores dos Jardins, que acompanhou as obras e fotografou a retirada de parte dos trilhos. “Eu passei por acaso pelo local e me surpreendi com o trator levantando aquelas enormes barras de ferros”, diz.

Célia sugere que a Prefeitura faça um jardim com os trilhos. “Acho que seria uma forma de cultivar a história da região sem atrapalhar as obras', diz. “Mas agora não sei se vai ser possível pois levaram tudo embora”, completa. Parte dos trilhos ainda está no local. O material recolhido no fim de semana foi guardado em uma galpão da Subprefeitura de Pinheiros. A assessoria de imprensa do órgão informou que no final de semana o subprefeito Nevoral Alves Bucheroni não sabia do ocorrido e que os funcionários retiraram os trilhos por iniciativa própria, sem avisar superiores sobre o achado.

Ontem, a assessoria afirmou que a subprefeitura vai fazer um estudo histórico para identificar a época exata em que havia bondes naquela região. O subprefeito vai ainda conversar com o secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, para definir qual o destino que será dado aos trilhos encontrados no final de semana.

A presidente da associação de moradores vê com bons olhos o estudo histórico. “Assim poderemos contar para as futuras gerações que ali, um dia, existiu uma linha de bondes. Essa identificação e preservação é muito comum na Europa. Precisamos mudar a mentalidade de não preservar nada”, afirmou.

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