Mentira pode ser usada como mecanismo de defesa |
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g1.globo.com - 12.03.09 |
Opinião: Mentira pode ser usada como mecanismo de defesa para crianças
Ana Cássia Maturano
Especial para o G1
Não raro, vemos crianças contando algumas mentirinhas do tipo: “Não fui eu que derramei o leite no sofá!”, mesmo que elas. Provavelmente, usam deste artifício por não se sentirem seguras em dizer a verdade, o que se deve muitas vezes ao modo de agir dos adultos, em especial dos pais.
Medo de decepcionar
Alguns pais agem de maneira exagerada diante daquilo que o filho faz ou diz. Como acusar-lhe de ser incompetente ou desastrado – aos gritos. Reações assim levam o outro a se fechar, omitindo ou mentindo sobre o que ia dizer. Principalmente se pressentir que o que dirá pode desagradar o adulto. O temor de perder o amor dos pais faz com que a criança oculte suas trapalhadas. Eles próprios, sem perceber, acabam sendo os incentivadores das mentiras nos pequenos.
Quantas vezes os pais negam a verdade, por se sentirem ameaçados por ela, levando os filhos a mentir. Refugiam-se em inverdades para preservar uma visão de perfeição dos pequenos e, em última instância, de si próprios.
Pensemos na situação em que, para agradar os pais, a criança mente sobre seus sentimentos negativos em relação ao irmão. Os adultos costumam dizer que os irmãos se amam. Ou então, sobre algo que possa ter ocorrido na escola, como uma briga que provocou. A criança nega e o pai a apoia incondicionalmente, ainda que suspeitando do contrário.
Reforça-se então a idéia de que mentir é algo bom, com ganhos secundários: elogio por dizer que gosta do irmão e apoio apaixonado do pai que tenta provar sua inocência. Sem contar casos em que os pais induzem palavras na boca do filho: “Fulano, não foi você que quebrou minha taça predileta, você não faria isso, não é mesmo?” - em tom ameaçador. Dificilmente a criança assumirá sua responsabilidade num clima desses.
Se pudermos ver nossos filhos como os seres humanos que são, não precisaremos ensiná-los a mentir para serem algo que jamais alcançarão – a perfeição. Todos os pais desejam que seus rebentos sejam os mais corretos e perfeitos, ao menos no que faz parte de sua escala de valores.
Compreensão que faz a diferença
Às vezes, atitudes simples podem ajudar as crianças e adolescentes a serem mais honestos consigo mesmos e receberem apoio necessário quando for o caso. Para tanto, o melhor é manter um canal de comunicação com o filho, em que se pode ouvir o que ele tem a dizer, as mais variadas coisas, inclusive as que forem contra seus princípios. O que não significa que devam concordar com tudo o que os filhos disserem. E sim escutar sem recriminar nem ter uma atitude exacerbada, favorecendo com que as crianças e adolescentes se sintam mais seguros em dizer a verdade. Provavelmente, perceberão que são amadas integralmente, mesmo que tenham aspectos que não agradam os pais.
Se puderem manter a comunicação num clima de aceitação e compreensão, terão a preciosa oportunidade de conhecer seus filhos e de orientá-los em algumas questões da vida. Se um adolescente confia em seus pais e sente que saberão ouvi-lo, provavelmente não terá grandes dificuldades em contar, por exemplo, que em determinada festa alguém usou drogas. Se os pais chegarem com pedras na mão, esse jovem pensará duas vezes antes de dizer algo.
Além do mais, os filhos também não querem decepcionar seus pais. Percebendo como eles sofrem com seus equívocos, acabam criando falsas histórias sobre si próprios. E todos vão se enganando. No fundo, sabem o que realmente ocorre. Uma relação de confiança, pautada na verdade, é melhor e mais fácil para todos.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL1038149-5604,00.html
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