8% dos aprovados em Medicina não fizeram cursinho |
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O Estado de São Paulo - 13.03.09 |
Apenas 8% dos aprovados em Medicina não fizeram cursinho
Há 5 anos, índice era de 15,5%; bolsas de estudo favorecem frequência no preparatório
Simone Iwasso e Renata Cafardo
Sejam oriundos de escolas públicas ou particulares, os aprovados em Medicina na Fuvest têm outra coisa em comum além de tirarem as maiores notas no vestibular: os cursinhos. Segundo dados da universidade, apenas 8% dos convocados na primeira chamada não passaram por eles. Há cinco anos, esse número era praticamente o dobro, ficando em 15,5%.
Um dos motivos da alta frequência nos cursinhos é o fato de concederem bolsas de estudo, seja por meio de provas para os mais bem colocados ou em troca de trabalho como monitor. Foi dessa maneira, por exemplo, que Maykon William Aparecido Pires Pereira, de 19 anos, conseguiu ser aprovado em terceiro lugar no câmpus de Pinheiros. "Sempre achei que era possível passar e decidi que não iria abaixar a cabeça", conta ele, que estudou a vida num colégio estadual de Cotia, na Grande São Paulo.
"Era bom aluno, mas quando fiz só 35 pontos na Fuvest, vi que não sabia nada." Decidido, conseguiu bolsa integral no Etapa. "Os outros alunos estavam revisando os conteúdos e eu aprendia pela primeira vez. É muito discrepante." Quando prestou a Fuvest pela segunda vez, fez 75 pontos, foi para a segunda fase, mas não passou. Começou de novo a maratona de estudos. O resultado veio: 88 pontos na primeira fase e 909 no total - com o bônus do Inclusp, somou 982 pontos (de um total de 1.000).
Rotina semelhante era a de Edelvam Gabana, de 21 anos, que estudou numa escola estadual em Glória de Dourados, no Mato Grosso do Sul, enquanto ajudava os pais no sítio. "Vim para São Paulo para estudar mesmo. Quando cansava, lembrava do esforço dos meus pais no sítio e via que não podia desanimar." Gabana conseguiu bolsa no cursinho em troca de trabalho como monitor. "Foram três anos de cursinho e de muita luta, acordando antes das 5 horas e indo dormir depois das 23 horas." O único dia de descanso era no sábado à tarde. O esforço rendeu: ele saiu dos 30 pontos que fazia no nos simulados para os 84, sem bônus, com os quais foi para a segunda fase. "Passar depois de tudo isso é gratificante. Minha mãe ainda tá chorando de tão feliz."
Na lista de aprovados, ele encontrou um outro companheiro de cursinho e de estudos: o primeiro colocado João Francisco Ferreira de Souza, de 19 anos, que fez 925 pontos, sem bônus. "Entrar em Medicina na USP é uma conquista por muito tempo de dedicação, você abdica de muitas coisas", conta Souza. Ele já havia sido o primeiro colocado no vestibular geral da Unicamp, em 2007, quando foi aprovado em Engenharia. "Sempre estudei muito, tinha uma rotina pesada na escola e depois levei muito a sério o cursinho." Ele fez o ensino fundamental e médio em um colégio militar em Minas Gerais. No ano passado, abandonou Engenharia para prestar Medicina.
No caso de Eric Oneda Sakai, de 19 anos, também aprovado de escola pública, a rotina de estudo foi dividida com as aulas particulares que dava à noite e o trabalho em um bufê no fim de semana. "Percebi que eu nem sabia estudar quando estava na escola. Foi um choque a rotina que tive de ter para conseguir passar. Fiquei doente, tinha dia que de tanto cansaço errava exercícios de soma e subtração", conta. Ele fez 920 pontos com as cotas - sem elas não teria sido aprovado.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090313/not_imp338129,0.php
O Estado de São Paulo
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