Negros redescobrem a África |
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Jornal da Tarde - 11.05.09 |
Negros redescobrem a África
Inspirados em Obama, celebridades fazem exames de DNA para descobrir suas origens
Os negros ricos americanos estão voltando os olhos para a África. Com exame de DNA, muitos estão buscando suas raízes, conseguindo dupla cidadania, fundando escolas, ONGs, financiando projetos sociais e até sendo nomeados chefes tribais.
O ator Isaiah Washington, do seriado de TV Grey's Anatomy, é um dos mais entusiasmados. Um teste de DNA feito em 2005 revelou que ele é descendente da tribo mende, gene que lhe rendeu a cidadania de Serra Leoa. Desde então, foi nomeado chefe de um vilarejo, criou uma fundação que já investiu US$ 1 milhão na construção de escolas, hospitais e na restauração de prédios históricos. “Se utilizarmos nossa capacidade financeira para ajudar esses países, daremos algum sentido às nossas raízes”, diz “Minha verdadeira família está em Serra Leoa.”
O historiador Henry Gates, ativista e professor de estudos afro-americanos da Universidade Harvard, foi um dos idealizadores de uma série de documentários da rede de TV pública PBS, em 2006. A produção reuniu um time de celebridades negras dos EUA que se submeteram a um teste de DNA para conhecer suas origens.
A atriz Whoopi Goldberg, os atores Morgan Freeman e Don Cheadle, a cantora Tina Turner e a apresentadora Oprah Winfrey foram alguns dos personagens. Oprah, por exemplo, descobriu que tem um pé na tribo kpelle, da Libéria. No ano seguinte, ela foi ao continente e construiu uma escola para meninas na África do Sul. O ator Chris Tucker, que descobriu ser descendente dos mbundus, de Angola, também viajou para a África em 2007 e teve uma recepção de rei em um vilarejo perdido no território angolano.
A moda atingiu também o mundo acadêmico. O geneticista Rick Kittles, da Universidade de Chicago, que coordena a fundação African Ancestry, afirma que já testou o DNA de 15 mil negros americanos. Os resultados são comparados com um banco de dados que tem 25 mil códigos genéticos de tribos e povos africanos.
Bruce Jackson, que dirige um projeto semelhante na Universidade de Massachusetts, diz que a base de dados é pequena e muitos exames não permitem cravar uma origem exata. Mesmo assim, a procura por testes de DNA é tanta que seu programa só aceita análises para daqui a dois anos.
O primeiro descobrimento da África por parte dos EUA foi no início do século 19, quando ex-escravos americanos foram encorajados a fazer o caminho de volta para o continente e fundaram a Libéria, em 1847. O segundo retorno às raízes foi o movimento negro dos anos 60, a luta pela igualdade civil e a difusão do “black power”. Segundo especialistas, a terceira onda africanista é resultado da conjunção de dois fatores: a presidência de Barack Obama, descendente de quenianos, e a estabilidade de muitos países africanos.
Anthony Archer, cientista político da Universidade do Estado da Califórnia, lançou em 2008 uma cruzada para convencer governos africanos a relaxar os requisitos para obtenção de cidadania.
A dupla cidadania facilitaria a vida dos negros americanos, que teriam direitos garantidos nos dois lados do Atlântico, podendo adquirir imóveis e constituir empresas nos EUA e em países da África. “Os negros americanos são os africanos mais ricos do mundo. A África poderia aproveitar esses recursos”, diz Archer, que, em 2008, peregrinou por Serra Leoa, Gana, Libéria e Tanzânia para defender a causa. Cristiano Dias
AS OUTRAS ONDAS DE ‘AFRICANISMO’ NOS EUA
Fundação da Libéria
Primeira onda do descobrimento da África pelos EUA. Negros libertados da escravidão retornam ao continente no começo do século 19 e fundam a Libéria, em 1847
Luta por direitos civis
Nos anos 60, impulsionados pelo movimento ‘black power’ e discurso de líderes como Martin Luther King, negros se revoltam contra o racismo da sociedade americana e derrubam leis segregacionistas - conquistando o direito de igualdade na sociedade. No esporte, atletas protestavam nas vitórias erguendo o punho fechado
Herança genética
O descendente de quenianos Barack Oba
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