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www.envolverde.com.br - 19.05.10 |
Poesia revisitada
Por Alex Sander Alcântara, da Agência Fapesp
Agência FAPESP – Em ensaio publicado em 1939 pelo poeta Manuel Bandeira (1886-1968), intitulado “O Poeta”, o escritor lançava uma questão fundamental sobre a produção de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908): se o escritor carioca tivesse morrido antes de publicar as obras da chamada fase da maturidade teria sido lembrado como um dos maiores expoentes da literatura brasileira?
A interrogação de Bandeira se refere à produção da poesia de Machado de Assis, esquecida pela crítica da época e relegada a um plano secundário em relação à prosa machadiana. Passados mais de 100 anos após sua morte, pesquisadores ainda se debruçam sobre sua produção e percebem que, quanto mais se reexaminam seus textos, mas se descobre sobre o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A prova disso é a publicação de Machado de Assis – A Poesia Completa, organizada por Rutzkaya Queiroz dos Reis, professora de literatura brasileira e coordenadora da graduação da pós-graduação em literatura do Centro Universitário Padre Anchieta, em Jundiaí (SP).
A edição com 752 páginas reúne 214 poemas publicados por Machado de Assis em livros e jornais da época. Além disso, a obra traz notas de esclarecimento sobre as origens dos textos e da publicação e revelam com detalhes cortes e modificações feitas nos poemas pelo próprio escritor.
Além disso, o livro inclui a recepção crítica aos poemas. Pela primeira vez, também foi incorporada em livro uma paródia do fragmento do Inferno da Divina Comédia, de Dante Alighieri, recuperada por Rutzkaya a partir de uma pesquisa feita por Eugênio Vinci de Moraes, da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com a organizadora da obra, grande parte dos poemas incluídos são conhecidos do público e já haviam sido publicados em alguns volumes anteriores, mas nunca haviam sido reunidos tal qual se encontram na coletânea.
“A contribuição original para o público se dá pela confiança que se pode ter no texto apresentado nesse volume. Os poemas de Machado de Assis que foram publicados em volumes anteriores não estavam com o texto estabelecido, ou seja, apareciam com estrofes a menos ou, às vezes, com o verso invertido e outros problemas tipográficos”, disse Rutzkaya à Agência FAPESP .
O livro é parte dos resultados de pesquisas que Rutzkaya desenvolve desde a iniciação científica e mestrado. Atualmente, está concluindo o doutorado em Teoria e História Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre a poesia de Machado de Assis, com orientação de Orna Messer Levin, professora do IEL.
Na iniciação científica, Rutzkaya trabalhou no “estabelecimento e fixação” do primeiro livro de poemas Crisálidas, publicado em 1864, e no mestrado com Falenas(1870), Americanas(1875) e Poesias Completas (1901). Em ambas as pesquisas, a autora recebeu bolsa da FAPESP.
A doutoranda ressalta que não analisou a poética de Machado de Assis, mas trabalhou com a “fixação” e o “estabelecimento” de textos. “Como não temos os originais, é preciso recorrer à última edição publicada e revisada pelo autor em vida”, explica ao salientar o sentido dos termos.
No doutorado, a pesquisadora do IEL estuda a “configuração do nome de Machado de Assis por meio da produção poética de 1854 a 1880, e tenta responder quem era o escritor e qual era o seu lugar na literatura brasileira antes da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
No entanto, a ideia inicial desde a iniciação, segundo a pesquisadora, não era de estabelecer textos, mas analisar os poemas. “Percebi, porém, que seria impossível analisar o texto por conta da variação de uma edição para outra. Eu não sabia qual era de fato o texto do escritor, quais ele havia escrito. Era necessário organizar para depois fazer um trabalho analítico”, explica.
O “Bruxo do Cosme Velho”, como era conhecido, publicou quatro livros de poesia. Nas duas primeiras partes da coletânea, a organizadora reúne os poemas publicados por Machado de Assis em Poesias Completas,
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Agência FAPESP
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