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Gilberto Freyre para o bem e para o mal


www.estadao.com.br - 05.08.10

Gilberto Freyre para o bem e para o mal

Fernando Henrique Cardoso não poupou críticas ao homenageado da Flip

Marco Tomazzoni, enviado a Paraty

Paraty começou em ritmo de aula. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comandou a conferência de abertura sobre o homenageado desta edição da Flip, o sociólogo Gilberto Freyre, mas fugiu dos elogios desmedidos. Como se esperava de um debate a respeito do autor de Casa-Grande e Senzala, controverso até hoje, houve mais espaço para críticas do que propriamente louvor ao sociólogo. Ponto para FHC, que enfrentou um protesto modesto do lado de fora: sete moradores da cidade reclamavam que a Flip não era “palco político” em ano eleitoral.

A política, é bom dizer, passou longe da Tenda dos Autores, o espaço principal da programação.
Professor da Sorbonne, em Paris, o historiador Luiz Felipe de Alencastro, responsável por mediar a conversa, destacou que Fernando Henrique estava ali como um “intelectual que seguiu carreira política”. Autor de um prefácio recente para a obra de Freyre, o ex-presidente disse ter ficado “surpreso” com o convite para a Flip, dedicada tradicionalmente à literatura, e estava em dúvida se era a “pessoa mais indicada” para a tarefa.

O fato é que Cardoso, como ele mesmo atesta, pertence à Escola de São Paulo, geração de sociólogos da década de 1950 discípula de Florestan Fernandes, com especial atenção para o estudo de raças no Brasil e, por isso, de conflito com a ideologia de Freyre. À época, se dizia que o sociólogo era “muito mais um ensaísta do que um cientista”, ideia que Fernando Henrique refuta hoje. “Freyre enfrentava essa acusação pelo domínio da literatura, por escrever bem. Frequentemente se usa na linguagem acadêmica palavras para os outros quase não entenderem, essa foi minha escola. Foi uma qualidade que também garantiu perenidade a Freyre.”

Por outro lado, são patentes as posições direitistas, contraditórias (a expressão “revolucionário conservador”) e racistas do autor, que tecia comentários depreciativos de negros, mestiços, judeus, quase de todo mundo. Ao mesmo tempo, por incrível que pareça, ele apregoava que a mistura de raças com escravos e índios era o segredo do Brasil. “Ele dizia que somos produtos da miscigenação e quanto mais, melhor seria. Essa é a mensagem dele”, lembrou Fernando Henrique. “É muito fácil criticar Freyre, ele abre flancos por todos os lados, mas não é justo fazer isso sem explicar.”

Nesse sentido, o ex-presidente destacou que a obra do sociólogo permanece relevante até hoje por ter rompido com o racismo e a tradição do pensamento nos anos 1930, que promovia a necessidade de uma raça pura e da existência de um estado com mão forte, na onda do fascismo. “Em suas análises, não entra o estado, e sim a influência da sociedade patriarcal, do panorama sócio-histórico-cultural. Como antropólogo, Freyre vê as pessoas, sua religião, costumes, culinária. Se aprende muito de como era a vida no Brasil.”

O tema foi um bocado árido para a abertura de uma festa literária e Fernando Henrique tentou não dispersar a plateia, apesar do cansaço ser inevitável em alguns momentos. Mesmo assim, encarou a insistente salva de palmas no fim de sua apresentação com bom humor: “Tomem cuidado nessas horas que dou bis e repito tudo”, brincou. Tom que se for mantido nos próximos dias pode afastar o temor de uma Flip mais fria e com pouco apelo para o público.

Além do belo projeto visual para o palco, a novidade neste ano na tenda principal ficou por conta dos autores convidados, que, ao invés de ficarem sentados no meio do público, como nos anos anteriores, estão estrategicamente colocados em bancadas ao lado do palco. É de lá que eles vão assistir nesta quinta-feira a mesa da chilena Isabel Allende, o destaque do primeiro dia de programação

http://ultimosegundo.ig.com.br/flip/gilberto+freyre+para+o+bem+e+para+o+mal/n1237739554414.html#0

Jornal O Estado de São Paulo

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