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www.envolverde.com.br - 17.08.10 |
Ideias urbanas
Por Fábio de Castro, da Agência Fapesp
Agência FAPESP – Ao longo dos séculos 19 e 20, a configuração e as transformações do espaço urbano paulista refletiram ideias provenientes de diversos campos do conhecimento e a interação entre profissionais de diferentes nacionalidades – incluindo médicos higienistas, arquitetos, engenheiros, sanitaristas e agrônomos.
A trajetória intelectual e profissional desses especialistas foi objeto de estudos realizados, nos últimos quatro anos, por historiadores e urbanistas de diversas instituições paulistas em um Projeto Temático apoiado pela FAPESP. O estudo identificou as referências teóricas que guiaram o pensamento urbanístico nos dois últimos séculos e analisou até que ponto essas propostas de intervenção nas cidades se tornaram realidade.
Coordenado pela professora Maria Stella Bresciani, do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o projeto reuniu pesquisadores e docentes da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Escola de Estudos Avançados de Veneza (Itália).
De acordo com Maria Stella, entre os inúmeros resultados alcançados pelo projeto, um dos mais significativos consistiu em demonstrar o poder do capital privado na configuração do espaço urbano paulista. No decorrer do tempo, o conhecimento gerado pelos especialistas resultava em propostas e soluções que nem sempre chegavam a se efetivar devido à pouca disponibilidade financeira da administração pública para realizar grandes intervenções.
“Muitas vezes o poder público não tinha recursos para efetivar as propostas dos especialistas e as intervenções dependiam bastante do capital privado. Até hoje, os empreendimentos imobiliários acabam prevalecendo”, disse à Agência FAPESP.
Um dos principais diferenciais do projeto é o caráter interdisciplinar, que possibilitou uma grande convergência entre as perspectivas de arquitetos e historiadores. Envolvida desde 1980 com questões urbanas, Maria Stella formou um grupo em 2005, com arquitetos e urbanistas da PUC-Campinas e da Unesp-Bauru, a fim de desenvolver o projeto.
“Nós percebemos a necessidade de estabelecer um diálogo entre historiadores e arquitetos. A formação em arquitetura e urbanismo proporciona uma capacidade muito grande de leitura espacial desses processos, sob a perspectiva técnica da arquitetura, mas são menos treinados para fazer uma leitura crítica dos documentos. Os historiadores, por outro lado, são capacitados para essa leitura, mas não têm a perspectiva espacial. O diálogo entre as duas disciplinas foi muito importante”, afirmou.
Uma vez que o foco temporal do estudo foi definido nos séculos 19 e 20, os pesquisadores passaram a definir o eixo teórico do trabalho. Uma das tarefas mais difíceis nesse momento, segundo Maria Stella, consistiu em superar anacronismos e premissas teóricas arraigadas na bibliografia acadêmica, como a noção de importação de ideias inadequadas à realidade brasileira.
“A noção de ‘ideias fora do lugar’ veio da literatura e impregnou outras disciplinas como a sociologia, a história e o urbanismo. Mas optamos descartar essa visão, adotando um eixo teórico que entende o pensamento urbanístico como um saber que não se constitui a partir de uma nação, mas das experiências de várias situações, cujo resultado constitui um domínio comum do conhecimento”, disse.
O próprio conceito de urbanismo, no eixo teórico estabelecido pelos pesquisadores, é concebido como um saber composto de várias disciplinas, que vão da medicina higienista à engenharia e à arquitetura, com contribuições da política e da filosofia. O termo “urbanismo”, segundo a professora, não era utilizado no século 19. As intervenções eram definidas como operações de “embelezamento”.
“Na realidade trata-se de um campo transdisciplinar constituído de diversos saberes provenientes de diversas experiências locais e internacionais. Não apenas no Brasil, mas também nas cidades europeias, as gr
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