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Sexta-Feira , 29 de Março de 2024
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Orkut de Índio


www.envolverde.com.br - 10.09.10

Orkut de Índio

Por Catharina Apolinário*

Quando pensamos em índios, logo visualizamos nossos livros didáticos de história do Brasil, que ilustram seus ensinamentos com telas antiqüíssimas em tinta a óleo. Índios nus, ignorantes, ingênuos, com penas na cabeça, morando em uma oca, plantando, caçando, fazendo artesanato com palha e cascas de vegetais e frutas.

Pois bem queridos, tenho novidades. Poucas tribos no Brasil conseguem manter seus costumes. A maioria dos indígenas vive em áreas pequenas onde não conseguem plantar nada por falta de espaço. A caça também foi prejudicada pois os animais, em sua maioria, estão em extinção e o IBAMA proíbe a caça em áreas de proteção. As ocas, em muitos casos, foram trocadas por barracos de madeira, que lembram uma favela. Os adornos com penas foram proibidos e o índio não mais pode fazer cocares com elas, mesmo que tenham caído espontaneamente dos pássaros, ciclo natural.

Recentemente participei de um evento no Vale do Ribeira que propunha o debate e a propositura de políticas públicas para beneficio das comunidades tradicionais. Entre conversas com parentes indígenas pude perceber a dificuldade destes povos. Observadores, os índios Guaranis participavam do debate, ouvindo atentamente e apenas interferindo quando o assunto era sua cultura e seu povo. Um índio Guarani me chamou atenção pelos seus traços fortes e pela sua fala ainda rebuscada pela linguagem nativa. Registrando todos os detalhes como de costume, eu fotografava os rostos diversos, marcados pelas suas lutas pessoais, mas que ali estavam presente para discutir o futuro coletivo.

Contagiada por aquela atmosfera mágica sentia-me de volta a origem e observava a simplicidade dos sorrisos e a atitude amistosa dos seres ali presentes uns com os outros. Não havia maldade, nem desrespeito. Observei mãos dadas, abraços calorosos, conversas animadas, discussões democráticas. E pensei que ali, naquele local estavam as comunidades que chamamos de tradicionais, e que muitas pessoas consideram antiquadas e nada modernas.

Pois bem, conheci lá um índio do povo Baniwa doutor em antropologia, descobri que indígenas Terenas apresentaram trabalhos de conclusão de curso em suas tribos, defendendo suas teses em sua linguagem nativa e isso me impressionou. Mas, curiosamente, o que me deixou mais impressionada foi o último diálogo que tive em minha estadia neste evento.

Enquanto fotografava os indígenas, o índio Guarani me disse que queria as fotos. Falei que era preciso um endereço para que eu enviasse um CD via correio, ou um endereço de email para envio pela internet. Subestimei a capacidade tecnológica do índio, o que fiz sem querer. E naquele momento me senti arcaica e provinciana ao me impressionar com a pergunta que respondia minha dúvida. Olhando bem para meus olhos, o índio disse: _ Você quer Gmail, hotmail, Yahoo ou o Orkut?

*Catharina Apolinário é jornalista e fotógrafa, formada em comunicação social, cursa pós graduação em controle e gestão ambeintal e pesquisadora de comunidades e povos tradicionais.

FOTO
Legenda: Imagem ilustrativa



(Envolverde/O autor)



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