Para crítico, Machado é maior que Dostoievski |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 16/09/2003 |
O crítico português Abel Barros Baptista faz hoje uma conferência no Colégio São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade, às 17 h (R. da Consolação, 94). A entrada é franca e não é necessário se inscrever. Abel, autor de A Formação do Nome: Duas Interrogações sobre Machado de Assis e de Autobibliografias, lançados pela Editora da Unicamp, está no Brasil a convite da Unicamp e da PUC-SP, participando de seminário sobre Eça e Machado. O tema de sua aula é Atualidade de Machado de Assis.
Estado - Qual a principal característica que dessa atualidade de Machado?
Abel Barros Baptista - Chamo atualidade da ficção de Machado o traço que nos obriga a pensar em problemas que definem nossa relação com o mundo contemporâneo. Falarei de alguns: a relação entre ciência e poder, a diferença entre razão e loucura, o problema da experiência, o problema da culpa e do juízo moral, do acaso e do destino, da juventude e da velhice. Ele abre perspectivas absolutamente esclarecedoras, que revelam a capacidade de surpreender linhas de força da evolução do mundo hoje visíveis.
Estado - O sr. considera Machado insuficientemente lido fora do Brasil. Por quê?
Baptista - Machado é um dos romancistas mais importantes da literatura ocidental, a meu ver mais interessante do que Dostoievski e com uma importância para a literatura do século 20 que não fica atrás de Proust ou Joyce. Não hesitaria colocá-lo ao lado de Cervantes entre os mais geniais romancistas de sempre. O problema é justamente a língua portuguesa: acho que isso sobretudo tem contribuído para a difusão escassa fora do Brasil.
Estado - Quais os seus desacordos em relação às leituras sociológicas de Machado feitas por Roberto Schwarz e John Gledson?
Baptista - Eu me afasto deles desde o começo do seu empreendimento crítico, que é procurar em Machado uma representação crítica da sociedade brasileira. Isso empobrece Machado, porque sua ficção abarca o mundo ocidental, integra-se na tradição européia e é crítica dessa tradição e do conjunto da civilização ocidental.
http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/09/16/cad024.html
Jornal O Estado de S.Paulo
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