Artigo de Luiz Caversan no site da Folha Online 20/09/2003

Uma extensa reportagem realizada pela conceituada revista "National Geographic" dá conta de que existem no planeta hoje nada menos do que 27 milhões de pessoas vivendo em regime de escravidão.

Esse número é maior do que o de todos os escravos arrancados da África em quatro séculos de tráfico, principalmente para as Américas. Esse número é motivo de vergonha para qualquer ser humano que perceba que estamos vivendo no século 21.

A reportagem é farta de exemplos, das prostitutas compradas por US$ 4 mil na Ucrânia para serem exploradas em Israel às adolescentes americanas mantidas sob violência por cafetões nos Estados de Oregon ou Nevada. São homens, mulheres, crianças, idosos, famílias inteiras submetidas ao mais abominável vilipêndio.

Há na revista situações que até seriam engraçadas se não fossem absolutamente trágicas, como o traficante que reagiu ao fato de estar sendo condenado por comprar e vender mulheres, dizendo algo como: "Mas não se faz isso com jogadores de futebol?"

É verdade, afora o fato dessa aberração humana não se dar conta de que os jogadores em geral não são mantidos em cativeiro, violentados e agredidos como se fosse uma subespécie. Bem, um homem desses deve, ele sim, pertencer a uma subespécie...

Segundo dados de um relatório do Departamento de Estado dos EUA, não existe nenhum país no mundo em que a escravidão seja legalizada. No entanto, sabe-se que no ano passado mais de 100 seres humanos foram traficados em 116 países. Sim, 116!

E não é apenas em locais onde a civilização passou raspando, não, como nos confins da África ou do Extremo Oriente.

A lista _--lembre-se disso da próxima vez que você for viajar-- contempla Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, Colômbia, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Israel, Itália, Japão, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça.

Para quem já estava ficando desconfiado: claro que o Brasil está na lista.

Com a miséria, a exclusão e a impunidade que ainda e sempre campeiam neste país, você acha que a gente ia ficar de fora?

Ainda mais com as nossas tradições, que vêm dos tempos dos bandeirantes matadores de índios, das senzalas e dos pelourinhos e chegam hoje às torturas "oficiais" e clandestinas, às cadeias abarrotadas, às chacinas etc., etc., etc....

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult513u121.shtml

Folha Online

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