> Sistema Documentação
> Memorial da Educação
> Temas Educacionais
> Temas Pedagógicos
> Recursos de Ensino
> Notícias por Temas
> Agenda
> Programa Sala de Leitura
> Publicações Online
> Concursos & Prêmios
> Diário Oficial
> Fundação Mario Covas
Boa noite
Quinta-Feira , 16 de Maio de 2024
>> Notícias
   
 
A pianista premiada


Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo
25/09/2003

São 82 anos de vida e dona Walkyria não dá o menor sinal de cansaço. Fala com desenvoltura de sua carreira como professora, de suas conquistas com os alunos; vira-se para o piano e ilustra com música tudo o que está dizendo, anda pela sala para mostrar seus métodos de ensino e exibe uma certa vaidade no modo de se vestir e ao tirar o óculos quando vai ser fotografada. A mesma vitalidade exibe ao defender que é, antes de tudo, uma pianista. E, como prova, mostra orgulhosa seu diploma, em que está documentado o prêmio que acaba de receber pela melhor interpretação de obras barrocas na terceira edição do Rock Mountain Amateur Piano Competition, nos Estados Unidos.

O concurso, que leva a chancela da importante Van Cliburn Foundation, é um dos muitos que têm se espalhado mundo afora com o objetivo de reunir pianistas amadores, aqueles que muitas vezes passam anos estudando, se dedicando ao instrumento em casa, sem fazer dele sua principal fonte de renda. No Brasil, já há algumas tentativas, nenhuma ainda, porém, reconhecida internacionalmente. "E, como lá agora na Califórnia mesmo, tem sempre um profissional que participa, o que não é certo", diz dona Walkyria.

Ela revela uma certa indignação, mas, também, faz uma confidência: ela e muitos de seus colegas amadores por vezes acabam dando um banho nos ditos profissionais. E ela mostra, então, as fotos, os currículos de alguns participantes, como o funcionário aposentado da companhia ferroviária norte-americana ou a titular da cadeira de Neurologia de uma importante universidade do país, que "interpretou uma Sonata de Chopin com muito mais propriedade que uma menina de lá, profissional".

Mas, ao começo da história. No ano passado, dona Walkyria Passos Claro foi aos Estados Unidos participar da segunda edição do concurso, em Colorado Springs. Voltou dez dias depois com o diploma de semifinalista. Este ano, despediu-se das filhas, dos 14 netos, do bisneto, e repetiu a dose. Investiu US$ 5 mil do próprio bolso na viagem. Ficou por lá por mais dez dias. "A gente soube que ela chegou e que estava tudo bem pelos funcionários do hotel, porque ela nem deu notícia para a gente, pode?", conta a filha Cíntia, sócia da mãe na escola Escala Atividades Musicais, em Perdizes. Além da experiência que surgiu do contato com os colegas norte-americanos e do diploma de semifinalistas, desta vez ela trouxe também o prêmio de melhor intérprete de música barroca, conquistado com a interpretação da Sonata em Ré Bemol Maior, de Soler.

O que faz dona Walkyria viajar sozinha aos Estados Unidos, investindo dinheiro e tempo de estudos é uma conjunção de fatores. "Eu sei tocar piano muito bem", ela começa, de um modo que fica difícil suspeitar de qualquer falta exagerada de modéstia. Mas, além disso, está a vontade de sempre aprender mais. Ela se diz fascinada pelo cérebro. E é isso que pauta toda a sua atividade, seja como pianista ou como professora. Enquanto ela estiver "acesa", aceitando novos desafios, vai irrigando o cérebro. E isso serve tanto para o desejo de viajar e conhecer novas pessoas, como também para o desafio de, regularmente, aprender peças novas, muitas vezes de novos compositores. "É por isso que pianista normalmente só morre de velho mesmo", brinca.

A mesma fascinação pelo cérebro aparece também nas aulas de musicalização que dá para as crianças, campo no qual tem larga experiência. Antes de abrir a escola com a filha, dona Walkyria - que estudou com Souza Lima e Magda Tagliaferro - chegou a dar aulas para 320 crianças carentes de Paraisópolis, projeto que até apresentou na Europa. "Ensinar piano é uma coisa, musicalização é outra, que é fundamental, vai abrir a mente da criança para tudo, dá disciplina, a questão não é apenas ensinar a técnica, mas mostrar o que está por trás da linguagem musical, que tem suas regras como qualquer outra", ela diz.

http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/09/25/cad028.html

Jornal O Estado de S.Paulo

Para mais informações clique em AJUDA no menu.

 





Clique aqui para baixar o Acrobat Reader