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Não se ufane tanto


Publicado pela revista Carta Capital
08/10/2003

Dada a tradição nacional, desde os tempos do conde Afonso Celso, de ver o otimismo como obrigação cívica e patriótica, não é surpresa que alguns jornais da terça-feira 30 de setembro tenham enfatizado tanto o lado positivo, ao tratar da publicação do estudo Estatísticas do Século XX pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia anterior.
A ponto de, às vezes, forçar a barra, como na manchete de O Estado de S. Paulo “O Brasil no século 20: um país 100 vezes mais rico”.
O que há de verdade nisso é que o PIB real cresceu mais de cem vezes de 1901 a 2000, pois a população cresceu 9,45 vezes e a parcela do PIB a que cada brasileiro teoricamente tem direito aumentou 11,2 vezes. Não parece mal, pode-se pensar, se levarmos em conta que, no mesmo período, o PIB mundial cresceu 18,65 vezes, a população 3,86 vezes e a renda per capita 4,83 vezes. Mas não é o mesmo que dizer que, de alguma forma, ficamos cem vezes mais ricos.

Na melhor das hipóteses, ficamos 11 vezes mais ricos – isso, se estivermos entre as camadas relativamente privilegiadas que conseguiram defender sua fatia no bolo nacional. Que isto não tem sido simples é o tema deste artigo, como também das entrevistas com José Luis Fiori e Nicolau Sevcenko e dos artigos de Luís Gonzaga Belluzzo (estratégia de desenvolvimento), Danilo Santos de Miranda (cultura) e Wálter Maierovitch (justiça).
Se observarmos em detalhes o comportamento da renda per capita ao longo do século, porém, o quadro começará a parecer ainda menos festivo e mais preocupante. Praticamente, todo o crescimento da renda per capita deu-se nos primeiros 80 anos, principalmente na segunda metade desse período (1940 a 1980). Nos 23 anos seguintes, oscilou para cima e para baixo, mas, em média, marcou passo. Pode-se concluir, dependendo do deflator usado, que a renda per capita do ano 2003 é um pouco maior ou até menor do que a do fim dos anos 70, mas é certo que não houve melhora substancial.
O crescimento médio da renda per capita ao longo do século aproxima-se de uma exponencial com crescimento de 2,9% ao ano. À atual taxa de crescimento da população (1,63% ao ano), o Produto Interno Bruto precisaria crescer hoje 4,6% ao ano apenas para a renda per capita não se afastar ainda mais de sua trajetória histórica. Que isto ainda soe como uma meta distante é o sintoma mais evidente de que as coisas não vão tão bem.
Em que ponto começaram a descarrilhar? Se compararmos no mesmo gráfico, a medida que o PIB per capita afastou-se do ritmo secular de crescimento e a evolução das dívidas nacionais (dívida interna da União e dívida externa), três tropeços ficam nítidos.
Se deixarmos de lado a crise relacionada à interrupção das exportações de café pela Primeira Guerra Mundial, o primeiro tropeço sério do século XX ocorre no fim dos anos 20: o rápido crescimento das importações e da dívida externa devido à valorização do café na primeira metade da década acaba em desastre quando a crise de 1929 fez o principal produto de exportação da República Velha perder dois terços do seu valor.

Foi preciso uma década para a recuperação, trazida pelo surto de industrialização desencadeado durante a Segunda Guerra Mundial. Os recursos financeiros necessários à implantação de uma infra-estrutura industrial, até então negados, foram proporcionados pela adesão de Getúlio Vargas à causa aliada. Iniciou-se então o primeiro ciclo de crescimento acelerado: de 1940 a 1952, a renda per capita triplicou e a economia cresceu a mais de 10% ao ano.
Nos 12 anos seguintes, de 1952 a 1964, o crescimento, ainda que menos espetacular, foi invejável pelos padrões de hoje: cerca de 4% ao ano, com uma melhora de mais de 10% na renda per capita.
Três anos depois do golpe militar, iniciou-se o tão propagandeado “milagre brasileiro”: o PIB cresce a taxas próximas de 10% anuais e a renda per capita dobra. Mais uma vez a euforia acaba em endividamento excessivo, dessa vez para financiar grandiosos projetos industriais e de infra-estrutura para construir o “Brasil Potência” sonhado pela ditadura.
Muitos deles, porém,

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Revista Carta Capital

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