Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 19/10/2003

Com paciência e cuidado, uma equipe de quatro pessoas está recuperando a memória de uma das mais importantes instituições de ensino do Estado de São Paulo. Antes perdidas em caixas, estantes e arquivos, milhares de páginas de documentos da Escola Caetano de Campos passam atualmente por um delicado processo de limpeza e catalogação, conduzido pelo Centro de Referência em Educação Mário Covas, ligado à Secretaria da Educação.

O trabalho está entre as atribuições do órgão, que tem o objetivo de consolidar uma política de preservação do acervo histórico das escolas públicas de São Paulo. "A Caetano de Campos é uma das mais antigas escolas do Estado", ressalta a coordenadora do Centro de Referência, Maria Aparecida Ceravolo Magnani. "Foi a primeira Escola Normal e também serviu de modelo para as demais." A instituição foi criada em 1846.

Tantos anos de existência produziram um rico acervo, hoje dividido em dois lugares na cidade. Na Aclimação está boa parte dos móveis antigos usados no prédio, entre eles carteiras, armários e estantes. No Brás, em um galpão da Secretaria da Educação, estão guardados os documentos. Os papéis mais antigos são do fim do século 19, quando a Caetano de Campos começou a funcionar. Os mais recentes pertencem ao início da década de 70.

Fazem parte do acervo cerca de 7 mil livros da biblioteca infantil e milhares de documentos da área administrativa. Há fotos tiradas do prédio da escola, de salas de aula e também de atividades dos alunos, como imagens de um curso de tiro que ocorreu no início do século passado.

Livros antigos guardam curiosos registros de matrícula. Entre os alunos que entraram para a escola no Jardim da Infância no fim do século 19 estão Julio Mesquita Filho e Francisco Mesquita, diretores do Estado entre 1927 e 1969.

Notas - Em tantos anos de história acumulados, outros nomes conhecidos passaram pela Caetano de Campos e aparecem nos documentos do acervo, desde quando a escola ainda se localizava na Praça da República. Alguns dos muitos livros de notas e faltas da década de 30 guardam o desempenho da escritora Lygia Fagundes Telles no curso fundamental. Existem ainda prontuários de estudantes como Sérgio Buarque de Hollanda Filho, filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e irmão de Chico Buarque.

Não faltam filmes, slides, dossiês sobre temas diversos montados pelos alunos, trabalhos dos estudantes, brinquedos educativos, discos e até exemplares do jornal Nosso Esforço, feito na escola ao longo de várias décadas. A maior parte dos itens pertence aos anos 30, 40 e 50. Todo esse material está sendo transformado em fonte de consulta para pesquisadores. "A idéia é também organizar um museu", afirma Maria Aparecida. "A secretaria já está procurando um local para isso."

Os papéis estão sendo higienizados por um grupo liderado pela coordenadora do Arquivo da Escola Caetano de Campos, Teresa Marcela Meza Baeza. "Não estamos só limpando", explica. "A gente também se dedica ao estudo dessa documentação." O trabalho tem como objetivo classificar os itens para, assim, dar o maior número possível de informações aos pesquisadores que se interessarem pelo material.

Trabalho piloto - Como há papéis muito antigos, tudo tem de ser feito com muito cuidado. Aos poucos, os documentos vão integrar um banco de dados. Mas o trabalho de higienização e catalogação ainda deve continuar no ano que vem. "Seria um trabalho piloto, para a partir daí trabalharmos com outros acervos", diz Teresa, que escreveu um manual, a ser publicado em breve, com dicas para as escolas de todo o Estado cuidarem de seus arquivos.

http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/10/19/ger007.html

O Estado de São Paulo

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