Desrespeito ao idoso lidera taxa de indignação |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 21/10/2003 |
Maus-tratos a idosos, preconceito racial e criminalidade são as principais formas de desrespeito à dignidade humana na opinião de moradores das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Recife, segundo pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Os dados do Relatório Sobre a Dignidade Humana e a Paz no Brasil, divulgados ontem, mostram que 71% dos paulistanos acreditam que predomina o desrespeito à população. No Rio, esse índice chega a 85,6% e no Recife, a 82,1%.
"Questões sociais foram mais citadas porque estão à vista de todos", acredita o professor João Bastitiolle, integrante do recém-criado Núcleo de Estudos sobre Dignidade Humana e Paz do Conic.
A pesquisa foi feita pela primeira vez em 2002, com 600 moradores da região metropolitana de São Paulo. Este ano, foram 1.725 entrevistas nas três áreas escolhidas. Segundo o coordenador do relatório e membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Francisco Whitaker, o levantamento será anual nos próximos dez anos.
"Nosso objetivo é chegar a um índice nacional de indignação. Em 2004, devemos fazer a pesquisa também em Porto Alegre e Belém", disse.
O objetivo do levantamento é coletar dados para ajudar nos estudos sobre dignidade humana e na descoberta de soluções para os problemas levantados.
"O relatório pode mostrar às igrejas como devem funcionar as pastorais e servir de base para ações do poder público", acredita Bastitiolle.
Em São Paulo, diminuiu o número de pessoas que nunca ouviu falar em dignidade humana. Na primeira pesquisa, em 2002, 20,5% dos entrevistados não tinham tido contato com esse termo. No relatório atual, essa marca ficou em 13,4%. No mesmo período, aumentou o índice de moradores de São Paulo revoltados com os casos de desrespeito, passando de 30,2% para 37,3%. No Rio, essa revolta foi demonstrada por 35,9% dos entrevistados e no Recife, por 39,2% das pessoas.
Mas esse sentimento nem sempre se reflete em ação. Entre os paulistanos, 23,5% disseram que acabam se conformando com os problemas. Outros 15,1% acreditam que não adianta fazer nada para mudar a situação. Mas apenas 13% dos cariocas e 12,1% dos pernambucanos afirmaram que não tentam acabar com os casos de desrespeito.
Para o mecânico paulistano Almivar Rodrigues, de 48 anos, o único modo de devolver a dignidade à população é "os políticos levarem a questão a sério".
Ele acredita que a falta de segurança e o desemprego são os casos que mais causam indignação. "A situação está estarrecedora. A gente sai de casa e não sabe se vai voltar."
A solução está mesmo nas mãos dos governantes, segundo a atendente de telemarketing Marta Helena Martins, de 39 anos. "Em educação e saúde, o que é oferecido para a gente não é digno", acredita.
De acordo com o levantamento do Conic, o índice de indignação é maior entre as mulheres. Em São Paulo, chegou a 56,7%, enquanto entre os homens foi de 56,3%. No Rio, 52,7% das entrevistadas afirmaram estar indignadas contra 49,3% dos homens. No Recife, a diferença foi de 51,5% para 49,9%.
http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2003/10/21/ger015.html
O Estado de São Paulo
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