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Drogas, recuperar é possível


Artigo de Carlos Di Franco no site do Correio popular
29/10/2003

Cabeça baixa, olhos cravados no chão, coração encharcado de dor.
“Será que Deus ainda olha para mim?” Paira no ar uma tristeza densa, que se pode cortar. A falência da auto-estima e o sentimento de culpa, à semelhança de uma laje de chumbo, esmagam a alma. A cena, dura e forte, retrata o day after de um adicto da cocaína. O drama, tragicamente rotineiro no frio anonimato da cidade sem alma, não é um recurso ficcional. É real. Tem nome e sobrenome, obviamente preservados por razões éticas elementares.

Recuperou-se numa comunidade terapêutica, o Horto de Deus, em Taquaritinga, interior de São Paulo. Seus olhos recobraram o brilho da esperança. Sua história, parecida com a de milhares de jovens, merece ser registrada. Não se faz jornalismo, nem mesmo matéria de opinião, fechado entre as quatro paredes de uma redação ou circunscrito ao rarefeito ambiente de um laboratório acadêmico. É preciso ver, ouvir, apurar, sentir, refletir e, só então, escrever. Nada supera o realismo da velha e boa reportagem. Com esse espírito, movido pelo dever de obter informação verdadeira, fui atrás de literatura especializada, de fontes confiáveis e, sobretudo, de experiências bem-sucedidas na prevenção e recuperação de adictos.

Tenho acompanhado o excelente trabalho realizado por algumas serviços especializados. O Grea (setor vinculado ao Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo - www.usp.br/medicina/grea) e a Uniad (da Universidade Federal de São Paulo - www.uniad.org.br), por exemplo, desenvolvem importantes esforços na luta contra as drogas. Notáveis têm sido as atividades promovidas pelos grupos de Narcóticos Anônimos (www.na.org.br) e Amor-Exigente (www.amorexigente.org.br) e a bem-sucedida estratégia adotada por algumas comunidades terapêuticas idôneas. Sem uso de medicamentos e apostando num conjunto de providências que vão às causas profundas da dependência, essas comunidades têm obtido um surpreendente índice de reabilitação. Visitei o Horto de Deus (www.hortodedeus.org.br).

Fiquei vivamente impressionado com o que vi e ouvi. Trata-se de um pequeno sítio, sem muros e sem grades. Os internos estão lá voluntariamente. Aliás, o desejo explícito de deixar as drogas é um pré-requisito para ingressar na comunidade terapêutica. As internações compulsórias, em clínicas caras e sofisticadas, freqüentemente acabam na amargura da recaída. Falta o essencial: querer. Os pavilhões são simples, limpos e arejados. Sente-se no ar uma alegria que contrasta com a história pregressa dos seus moradores. Lá, depois de terem descido todos os degraus da miséria material e moral, reencontraram a chispa da esperança. Vida saudável, laborterapia, disciplina, resgate dos valores e terapia individual e de grupo compõem a receita da instituição. Reuni-me com 16 internos.

A conversa, franca e direta, foi ao cerne do problema, desfez inúmeros equívocos e me transmitiu a sinceridade cortante daqueles que conheceram o fundo do poço. Ao contrário, por exemplo, dos que proclamam o caráter inofensivo da maconha, 15 dos 16 entrevistados afirmaram que o primeiro baseado foi o passaporte para as drogas pesadas. São unânimes na crítica à descriminação da maconha. “No começo eu tinha receio da droga. A maconha tira o medo. Depois, o organismo pede coisas mais fortes”, comentou S.M., 17 anos, filho de um empresário. Vários deles foram influenciados pela tolerância e o apoio ao consumo que transparecem em entrevistas de artistas, letras de algumas bandas de rock e matérias de comportamento. “Os artistas e as bandas influenciam muito. Dão empolgação, transmitem um clima de sucesso”, afirmou E.C.C., filho de um médico. A família é uma âncora fundamental. Surpreendentemente, não querem um apoio concessivo.

Esperam carinho, mas aspiram por firmeza. “Precisamos de limites”, sublinhou S.M. A recuperação do adicto reclama, necessariamente, a reabilitação da própria família. Traumatizados e desorientados com o drama dos seus filhos, os familiares podem encontrar apoio e orientação nos grupos de Amor-Exigente e Nar-Anon espalhados pelos quatro cantos

http://www.cpopular.com.br/colunista/difranco/

Correio popular

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