> Sistema Documentação
> Memorial da Educação
> Temas Educacionais
> Temas Pedagógicos
> Recursos de Ensino
> Notícias por Temas
> Agenda
> Programa Sala de Leitura
> Publicações Online
> Concursos & Prêmios
> Diário Oficial
> Fundação Mario Covas
Boa noite
Quarta-Feira , 30 de Abril de 2025
>> Notícias
   
 
A atual conjuntura


Artigo de João Ubaldo Ribeiro em O Estado de S.Paulo
26/10/2003

Não faz muitos anos, falava-se muito na atual conjuntura. Saiu de moda. Hoje tudo sai de moda às vezes em questão de horas, tanto assim que os 15 minutos de fama previstos para todos por Andy Warhol com certeza mudarão em breve para alguns segundos, vamos dizer uns 45. Ninguém se refere mais à atual conjuntura, que, no momento em que a rotulamos de atual, já está superada. Por exemplo, a maior parte de nós tem, se tanto, apenas uma vaga lembrança das principais notícias dos jornais da última semana. Ficar explorando o mesmo fato, por mais importância que tenha, não combina com os nossos dias. Há corrupção, que deve ser denunciada e punida? Sim, há, mas brotam tantas ocorrências a cada instante que é impossível arquivá-las na memória e, assim, consome-se a corrupção de ontem e passa-se à de agora, que durará até a de amanhã. E obviamente ninguém é punido, não dá tempo.
Até os ídolos da televisão agora são produzidos em massa e programados, creio eu, para se autodestruírem assim que seu uso encerrar-se, como na velha série Missão Impossível. Eu mesmo que, não por aversão, mas por outras razões, assisto a muito pouca tevê, tenho enfrentado problemas embaraçosos, nos raros eventos sociais a que compareço, porque, mal acabo de decorar, com grande empenho, quem são os mais gostosos e talentosos do dia, irrompem novos, que se ofendem ao patentear-se que nunca ouvi falar neles. Mas não é esnobismo, é falta de capacidade de armazenamento na memória. Peço perdão a todas, mas, na minha já avançante idade, fica difícil registrar a moça cujo traseiro ou cujos pêlos pubianos são os do momento. É meio atordoante, pois a cada hora novas ocupantes dos postos são, para usar uma palavra bem em voga, disponibilizadas nas revistas do ramo.
Mas, pensando melhor, continuamos a dispor de uma atual conjuntura, com características próprias e previsíveis. A primeira delas é a iminência do verão, que ainda não chegou e tem parecido pouco disposto a isso. Já entramos no famoso horário de verão e já lemos as primeiras manifestações a favor e contra ele, como lemos todos os anos. E vêm aí as mesmas reportagens sobre a musa deste ano e as comidinhas saudáveis (tudo capim, no ver de minha geração) com que devemos nos alimentar na estação quente, isso enquanto ainda é admissível comer alguma coisa, eis que os capins têm agrotóxicos e, segundo li outro dia, comer muito de alguns deles equivale a comer as substâncias agressivas ingeridas numa quimioterapia. Os avisos de que a dengue talvez volte com força total começam a aparecer e desta feita o combate será muito mais eficiente. Não será, mas dizer que será faz parte da conjuntura.
E diversos outros aspectos da realidade contribuem para dissipar a sensação desconfortável de que tudo vem mudando depressa demais. Na segunda-feira passada, o Rio de Janeiro viveu talvez a sua mais acirrada batalha campal - a ser conhecida nos futuros livros de História como a Batalha do Acari, evento que marcou a evolução da nossa adiantadíssima violência urbana, ainda sem morteiros e canhões, mas com direito a granadas, utensílio doméstico de uso crescente, e saraivadas de balas em 12 ou 13 carros da polícia.
Novidade? Não muito, porque já temos experiência para saber que se trata somente de um episódio da evolução da atual conjuntura, que atual permanecerá, com as subseqüentes declarações das autoridades sobre como isso não pode prosseguir e medidas enérgicas serão prontamente adotadas.
Na área econômica, também permanecemos imersos na conjuntura. O desemprego, dizem aqui as folhas, nunca foi tão alto na América Latina e o Brasil não deve estar mal no ranking. Além disso, com uma legislação "social" que obriga o dono do boteco da esquina aos mesmos ônus que as multinacionais e bancos (ou mais, porque há bancos que não pagam imposto de renda), os trabalhadores não-registrados são talvez a maioria e continuarão a ser. Até porque a instituição de um imposto único, não-declaratório, tida por vários especialistas como ideal, jamais será implantada, pois que fim se daria à vasta estrutura vigente, da oficial à dos des

http://www.estado.estadao.com.br/colunistas/ubaldo.html

O Estado de São Paulo

Para mais informações clique em AJUDA no menu.

 





Clique aqui para baixar o Acrobat Reader