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Pesquisadores montam escola de pajés


Publicado pelo jornal Folha de S.Paulo
09/11/2003

Uma parceria aparentemente inviável, entre o médico de estetoscópio no pescoço e o pajé de cocar na cabeça, vem sendo experimentada e avaliada nas regiões do Médio e Alto Rio Negro (AM). São reservas indígenas na divisa com a Colômbia e a Venezuela, onde 21 mil índios ocupam 720 aldeias numa área de 108 mil km2.

Ali, os oito médicos que percorrem essas aldeias procuram entrar nas cabanas acompanhados dos pajés ou kumus [os benzedores], que facilitam a mediação, o diagnóstico, as explicações e a medicação ao paciente.

Depois de 50 anos de doutrinação salesiana, durante os quais os benzedores tiveram que esconder seus poderes e os pajés "fingiram" que desapareceram, o renascimento dessas entidades começa a ser valorizado.

Aos poucos, estão sendo incentivados a sair da clandestinidade. Associações como o Centro de Revitalização da Cultura Indígena de Iauareté (Cerci), coordenado pelo kumu tucano Guilherme Maia, é dessas iniciativas que têm o apoio de organizações internacionais e da Organização Mundial de Saúde.

A proposta é revitalizar elementos centrais das culturas indígenas do Uaupés/Rio Negro, o que facilitaria a parceria entre os profissionais médicos e os pajés.

"Estamos trabalhando para que os profissionais de saúde entendam que é necessário uma relação entre as duas medicinas", diz o antropólogo Renato Athias, coordenador do núcleo de estudos e pesquisas em etnicidade da Universidade Federal de Pernambuco e assessor de duas importantes organizações que trabalham no Alto Rio Negro. Uma delas é a Associação Saúde Sem Limites, a outra é a Foirn, Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Com a experiência e o profissionalismo de quase duas décadas, a Foirn é hoje a parceira da Funasa (Fundação Nacional da Saúde) nos cuidados médicos de toda a população desse distrito sanitário indígena.

Athias diz que há mais de 20 anos está no encalço dessas culturas e tradições, sempre em contato com o que chama de "sabedores indígenas".

São três os personagens indígenas que detêm e passam de geração a geração os poderes xamânicos. O que nós chamamos de pajé, entre os tucano é chamado de yaí. O segundo é o baiá, o terceiro, o kumu.

Segundo Athias, o yaí é o mais poderoso. Ele cura pela água, pelo sussurro, pelo sopro, e vai buscar na mitologia a causa da doença. O baiá cura pela música. Enquanto o yaí toca no corpo da pessoa e cuida de sua enfermidade, o baiá faz a proteção de todo o ambiente, da maloca, da família, da aldeia. O kumu, o benzedor, cura pela palavra e pelas plantas.

Desde 1999, por meio da Associação Saúde Sem Limites, Athias vem conseguindo reunir anualmente esses "sabedores indígenas", a maioria kumus, pois há poucos baiás e os yaís nem se identificam. Hoje, as assembléias são chamadas de "encontros de medicina tradicional".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0911200321.htm

Folha de São Paulo

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