Quilombos também tiveram origem mestiça |
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Publicado pelo Jornal O Estado de S. Paulo 23/11/2003 |
Esqueça os livros de história da escola e as cenas de novelas de época,
que descrevem os quilombos como comunidades compostas exclusivamente por negros. Pesquisas genéticas com populações
remanescentes de quilombos mostram que como praticamente
toda a população brasileira, também a que deu origem a esses agrupamentos era mestiça. E não só. Boa parte das mulheres dessas comunidades era formada de índias, capturadas de tribos da região. E
até brancos pobres se agregaram aos quilombos.
As conclusões são resultado do trabalho do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB), sob a coordenação de
Silviene Oliveira, que analisou comunidades dos núcleos Rio das Rãs e Riacho do Sacutiba, na Bahia, Mocambo, em Sergipe, e Kalunga, em Goiás. Um dos critérios para a escolha dessas comunidades foi o fato de
todas terem a posse da terra. “Não quisemos que nossa pesquisa
interferisse no processo de reconhecimento de um quilombo que, de forma alguma, pode envolver critérios biológicos”, explica Silviene.
Não é o único grupo que está analisando genes das comunidades
quilombolas. Há pesquisas em andamento desde o Pará até o Vale do Ribeira, em São Paulo, envolvendo cerca de cem cientistas de várias universidades. O retrato que começa a surgir é o de grupos com dinâmicas diferentes: alguns fundado sem torno de uma só família,
outros a partir de várias, alguns em que o sobrenome passa
de mãe para filha e de pai para filho e por aí em diante. Em
comum, têm a demografia típica das populações rurais, com
muitas crianças e jovens e poucos adultos. Mas são todas mestiças
na origem, mesmo antes da criação dos quilombos.
“Meu interesse pelos quilombos surgiu porque eu queria pesquisar
as populações negras trazidas para o Brasil e como essas comunidades remanescentes vivem em isolamento pareciam ser o ponto de partida
ideal”, conta Silviene. Isso porque, por ordem de Rui Barbosa, todos os documentos brasileiros relativos aos escravos negros foram destruídos após a abolição para que seus proprietários não tivessem base legal
para exigir indenizações. “A gente imaginava que eles teriam pouca ou nenhuma mistura por causa do isolamento”, diz a pesquisadora que analisou cerca de 500 indivíduos dessas comunidades.
Leia a matéria na íntegra em:
http://jpdf.estado.com.br/
O Estado de São Paulo
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