> Sistema Documentação
> Memorial da Educação
> Temas Educacionais
> Temas Pedagógicos
> Recursos de Ensino
> Notícias por Temas
> Agenda
> Programa Sala de Leitura
> Publicações Online
> Concursos & Prêmios
> Diário Oficial
> Fundação Mario Covas
Boa tarde
Quarta-Feira , 15 de Maio de 2024
>> Notícias
   
 
O sorteio é mais justo


Artigo de Rubem Alves na Folha de S.Paulo 25/11/2003

Terminei meu último artigo com a palavra "continua", para mostrar que ainda restavam estocadas a serem desferidas contra o dragão devorador de inteligências.

Eu fizera uma proposta insólita e aparentemente absurda: de que os vestibulares fossem substituídos por um sorteio. Mostrei que, com o sorteio, os inúteis e caros cursinhos desapareceriam. Mostrei ainda que o sorteio libertaria as escolas de sua escravidão aos padrões de conhecimento impostos pelos vestibulares, ficando então livres para verdadeiramente educar. E, ao final, indiquei que o sorteio quebraria a "opção preferencial pelos ricos" que caracteriza o atual sistema, dando chance aos pobres. Agora, os argumentos finais.

4. Os ricos, vendo que a loteria é cega e ignora a riqueza e vendo que os seus filhos não são sorteados, liberados que estão de todas as despesas que tinham anteriormente com os cursinhos, passariam a dispor desses recursos para criar excelentes universidades particulares, sem que o governo tivesse necessidade de fazer qualquer investimento.

5. Eu sou pai. Meus filhos tiveram de frequentar cursinhos e fazer vestibulares. Sei do sofrimento dos pais. Dói muito ver o filho ser reprovado depois de ter passado um ano miserável estudando como um louco coisas que não fazem sentido e serão esquecidas, tais como: "Calcule o logaritmo neperiano da enésima potência da própria base"; "O fenômeno da trissomia é provocado pela: (a) simples deleção dos cromossomos; (b) não-disjunção das cromátides; (c ) não-reversão que ocorre na diacinese; (d) translocação do cromossomo na mitose"; "Quais os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas?".

Primeiro, vem o sentimento de injustiça, vendo o processo de tortura inútil a que o próprio filho é submetido. Depois vem o sentimento de inveja... "Meu filho entrou em medicina na USP. E o seu? O meu não passou. Terá de fazer cursinho de novo..."

Dostoiévski, se minha memória não falha, comentando sua experiência de prisão, disse que havia imaginado uma maneira de enlouquecer os presos: bastava submetê-los ao trabalho forçado de esvaziar uma piscina levando a água em baldes para uma outra. Depois de cheia a segunda piscina, eles teriam de fazer a mesma coisa com ela: esvaziar para encher a primeira. Infinitamente.

Fazer o cursinho de novo, a mesma coisa... É terrível ver o filho vivendo a maldição de Sísifo... Com o sorteio, o pai, ao ver que o filho ficou de fora mais uma vez, dá-lhe um abraço e diz: "Vamos tomar um chope?".

Estou consciente da objeção que paira no ar: sem o terror dos vestibulares, os ensinos fundamental e médio se deteriorariam, pois seriam apenas "pro-forma", já que o aprendizado seria irrelevante para o ingresso nas universidades. Mas esse é um perigo facilmente evitado.

O término do ensino médio seria marcado por uma exame nacional, preparado e aplicado pelo Ministério da Educação. O objetivo desse exame seria verificar se os alunos haviam atingido o nível mínimo de aprendizagem exigido. Não seria classificatório. Haveria apenas os conceitos "aprovado" e "reprovado". Todos os aprovados teriam atingido o patamar de conhecimento julgado suficiente. Poderiam entrar no sorteio. Os outros não. Tal exame seria, ao mesmo tempo, um instrumento para avaliar a qualidade de ensino nas escolas.

Já foi sugerido que, para evitar o vestibular, o ingresso nas universidades deveria se basear no histórico escolar do aluno. Para mim, isso seria um desastre. Eu não entraria. Como já confessei, fui mau aluno. E afirmo que, com honrosas exceções, os professores que tive não mereciam que eu aprendesse o que eles diziam estar ensinando.
Veja o artigo na íntegra em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u645.shtml

Folha de São Paulo

Para mais informações clique em AJUDA no menu.

 





Clique aqui para baixar o Acrobat Reader