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Publicado pelo caderno Sinapse, da Folha de S.Paulo 25/11/2003 |
“Em maio, eu estava louca, preocupada com o Enem e com o vestibular. Agora, minhas colegas estão se matando em cursinhos, e eu, em janeiro, já estarei em uma universidade nos Estados Unidos", comemora Mirela Braghini, 17, única brasileira aprovada numa grande peneira de jovens atletas a uma bolsa que garantirá a ela o ensino superior no exterior.
Em julho, Mirela participou —com mais de cem candidatos latino-americanos— do processo seletivo do o Idea (International Doorway to Education and Athletics), programa americano que dá bolsas para atletas estrangeiros. O programa chegou ao Brasil apenas neste ano, com a DW Brazil, uma agência de cursos no exterior localizada em São Paulo.
Dirigido principalmente para a América Latina (dos 140 inscritos avaliados, 110 eram latino-americanos), os alunos pré-selecionados são reunidos em determinadas universidades para atividades que servirão de base para que técnicos de várias modalidades esportivas os observem.
Mesmo sem encarar o vestibular, os testes por que Mirela teve de passar não foram fáceis. Entre os jovens que jogavam basquete, ela foi a única mulher aprovada pelo Idea. Com 1,75 m e 62 kg, ela teve de jogar em um time de meninos para participar da avaliação final.
A maior dificuldade da jovem atleta paulistana foi tentar aparecer na partida, já que seus companheiros de time não passavam a bola, e os adversários a ignoravam. Uma passagem lembrada com humor por Mirela foi ter percebido a revolta de um candidato argentino, substituído por ela, que não acreditava ter sido desbancado por uma mulher.
Depois dos testes, em poucos dias, Mirela tinha cinco propostas de bolsas em universidades. Ponderando tanto o lado esportivo como o acadêmico, ela ficou com a primeira que havia chegado a suas mãos: a da Mayville State University, no Estado de Dakota do Norte.
"No Brasil, eu pretendia fazer propaganda e marketing na ESPM. Pagaria uns R$ 15 mil por ano, fora livros e outros custos. Nos EUA, com a bolsa, vou pagar US$ 4.100 por ano (cerca de R$ 12 mil), incluindo livros, moradia e alimentação. E ainda ganho um laptop logo que chegar lá", compara a jogadora. Sem a bolsa, o valor anual do curso de "business administration" —sem incluir custos extras— ultrapassaria US$ 30 mil.
Assim que chegar, Mirela deve se juntar ao time e estrear no campeonato universitário, na 14ª rodada. O objetivo, no entanto, é chegar à WNBA, a versão feminina da NBA (National Basketball Association). "Esse sonho sempre passou pela minha cabeça, desde quando comecei a jogar, com 11 anos. Agora, estou mais perto dele", diz.
Mas Mirela não esquece as dificuldades de conciliar o basquete com seus estudos. "Lá, vou ter treinos de manhã e à noite e estudos à tarde."
Para participar da seleção do Idea, é necessário ter de 16 a 26 anos e praticar os esportes listados —entre eles, futebol, basquete, golfe e tênis. A dica "quente" de Karen McQuade e Maria Helena Ferrari, coordenadoras da DW Brazil, é o futebol feminino, categoria na qual a procura por novas atletas está em alta.
Além das habilidades esportivas, o processo conta com testes de conhecimento, com alguns custos pagos pelo concorrente. A primeira seleção é feita no Brasil, onde os atletas passam por uma avaliação com técnicos de suas modalidades e pagam uma taxa de US$ 500 (cerca de R$ 1.500), reembolsáveis caso o candidato não passe dessa fase. Aprovado no Brasil, o aluno deve custear sua ida aos EUA, onde participará das etapas seguintes.
Mas há outras formas de aproveitar o talento esportivo para garantir uma chance melhor no ensino superior. Em São Paulo, os clubes Pinheiros, Hebraica e Esperia mantêm uma parceria com a Unip (Universidade Paulista) para oferecer bolsas a seus atletas. Em troca dos benefícios aos estudantes, os clubes cedem espaço para as instituições de ensino.
Veja a matéria na íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u655.shtml
Folha de São Paulo
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