Três cabras, um bode e as crianças na escola |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 01/11/2003 |
Ao lado de três de seus nove filhos, a sertaneja Maria José da Silva Oliveira caminhava atenta na semana passada por uma feira de caprinos no município de Serrinha, semi-árido baiano. Olhava, conversava com vendedores, ouvia a opinião das crianças, pechinchava. Comprou um bode e três cabras. Na região, há muito tempo a cabra é sinônimo de renda. Leite, carne, couro e esterco para adubação, tudo se aproveita, tudo tem seu preço.
Agora, ela descobriu que o animal pode significar melhor educação para os filhos. "Tenho muita fé. Meus filhos já trabalharam na roça, na olaria, ajudando o pai. Com as cabras, a esperança é que os meninos fiquem só na escola, só estudando."
A feira de Serrinha, realizada na quarta-feira, reuniu outras famílias como a de Maria que nos últimos meses receberam orientação sobre criação de caprinos, planejamento da propriedade e se comprometeram a manter seus filhos na escola, longe do trabalho. Receberam também um empréstimo para iniciar sua criação. Maria tomou quase R$ 800 para pagar em seis anos, com a primeira parcela só daqui a 24 meses e juros de 3% ao ano.
Batizado de Cabra Escola, o projeto foi elaborado no ano passado por uma organização não-governamental da região, o Movimento de Organização Comunitária (MOC). O laboratório Pfizer investiu R$ 170 mil em 2002 e R$ 185 mil neste ano. O projeto está em sua segunda fase. No ano passado, 120 famílias (cerca de 700 pessoas) foram beneficiadas. Agora, outras cem. Além de Serrinha, o projeto funciona nas cidades de Ichu, Riachão do Jacuípe, Nova Fátima e Conceição do Coité.
A idéia é simples: fazer da criação cabras uma atividade rentável para que famílias não sintam mais a necessidade de complementar a renda com o trabalho infantil. Pelos dados do IBGE, o rendimento familiar de um terço dos domicílios de Serrinha é de até um salário mínimo. O Cabra Escola exige uma freqüência escolar das crianças de 80%.
Serrinha fica na região sisaleira da Bahia, a pouco mais de duas horas de Salvador. E, como na maioria dos 45 municípios da região, tem um triste histórico de mão-de-obra infantil. Nas colheitas do sisal, nas pedreiras quebrando brita, no lixão, fazendo artesanato de palha, as crianças estavam em todos os lugares onde era possível amealhar uns trocados. Iam à escola quando possível. A prioridade era o trabalho.
A situação começou a mudar nos últimos anos com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do governo federal, que, por meio das prefeituras, remete às famílias R$ 25 por criança mantida na escola. Ao todo 118 mil crianças na Bahia estão no programa, 78 mil só na região do sisal.
Vaja a matéria na íntegra em:
http://txt.estado.com.br/editorias/2003/12/01/ger020.html
O Estado de São Paulo
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