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Entrevista do sociólogo Jessé Souza ao site No Mínimo 05/12/2003 |
Jessé Souza, 43 anos, acha que o meio acadêmico brasileiro é muito reverente. Entroniza num “panteão de santos” os grandes pensadores brasileiros. Jessé é implacável com os “explicadores” do Brasil em “A Construção Social da Subcidadania”, livro que acaba de publicar (Editora UFMG; 212 páginas; R$ 25,00).
Nascido no Rio Grande do Norte, com cursos de pós-graduação na Alemanha e nos Estados Unidos, Jessé, há dois anos professor do Iuperj, aponta falhas que considera clamorosas nas interpretações de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Roberto Da Matta. A pior de todas é que nenhum deles acha que a desigualdade social é a principal contradição da sociedade brasileira.
O país imaginado pelos “explicadores” é personalista nas relações pessoais e sociais e patrimonialista na ação do Estado. E para Jessé isso é inteiramente falso. Por não se deter no mecanismo classificatório opaco que divide a sociedade entre gente e não-gente, ou cidadãos e subcidadãos. É este mecanismo que faz com que a desigualdade seja vista como um fenômeno natural, como a chuva. Não é obra humana. E de todos, e não apenas “do bando de ladrões que nos rouba em Brasília”, raciocínio típico do cacoete personalista.
A bem da verdade, frisa Jessé, nem os explicadores nem ninguém (ou quase ninguém) entende direito o que é uma sociedade periférica. Nem o governo Lula. Durante 50 anos (entre 1930 e 1980) a economia brasileira foi a que mais cresceu no globo e a desigualdade não foi resolvida. Ao contrário, agravou-se. Acenar agora com o “espetáculo do crescimento” como esperança de redenção social é uma “insanidade”, diz Jessé. Não é com crescimento econômico nem só com voto que se vai promover os 60, 70 milhões de brasileiros da ralé. E é sobre isso que Jessé Souza acha que precisamos pensar. Veja sua entrevista.
O que é subcidadania?
O livro que acaba de ser publicado não trata apenas de subcidadania. É mais ambicioso. O que tento é refletir sobre o que há de específico num país como Brasil que tem uma grande complexidade econômica, de um lado, e uma desigualdade social abismal, de outro. Como foi possível ter a maior taxa de crescimento econômico do globo entre 1930 e 1980 sem que tenha havido repercussão relevante na desigualdade social?
Minha suspeita: esta desigualdade foi naturalizada. Ou seja, foi tornada natural, como se não fosse obra do homem. A subcidadania é a ponta deste iceberg. Traz à tona hordas de marginalizados que não tem nada. Que são sub-gente.
O pensamento social brasileiro marca passo neste particular. Mas é bom que se diga que a nível internacional também há uma pobreza teórica para explicar a especificidade de sociedades periféricas como a nossa.
O pensamento social brasileiro contribuiu para esta naturalização da desigualdade?
Não, não acho isso. O problema é que os grandes intérpretes do Brasil não conseguem ver a desigualdade como nossa contradição principal. Que explicação se dá para esta marginalização social? Diz-se que carregamos uma pesada herança de Portugal que criou nas relações sociais uma cultura do personalismo e que institucionalmente se expressa na forma de um patrimonialismo incrustado dentro do Estado.
A modernização, que ninguém nega, é vista como secundária. Primária é a herança cultural de séculos.
Veja a íntegra da entrevista em:
http://nominimo.ibest.com.br/notitia2/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=51&date=currentDate
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