Criatividade: docentes atraem atenção de alunos |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 05/12/2003 |
Apesar de todas as dificuldades e desestímulos, alguns professores da rede estadual de ensino encontram iniciativa - e boa dose de imaginação e talento - para ir além do currículo e desenvolver maneiras criativas de ensinar. Na E.E. Presidente Tancredo Neves, no Jardim Patente, próximo à Favela Heliópolis, o professor Valmir dos Passos Souza Araújo encarna um alquimista turco do século 15 para ensinar os alunos sobre os primórdios da química. Aproveitando o gosto pelo teatro, ele montou uma peça de uma hora - com direito a música, figurino e efeitos especiais -, que apresenta no início do ano letivo. "Não consigo dar aula só falando e escrevendo na lousa", diz. "Dou aula por amor e sinto que os alunos respeitam isso."
Desde o ano passado, Valmir também ensina os alunos a fabricar sabonete líquido, incorporando conceitos de química, matemática e economia. Além de produzir o sabonete, os jovens fazem pesquisas de mercado para calcular preços, desenvolvem estratégia de propaganda e criam rótulos para o produto no computador. "Sempre gostei de aliar conceito a aplicação prática", diz Valmir. "O aluno tem de sentir que a matéria tem ligação com a vida dele."
"É muito mais interessante porque fazemos o mesmo processo que as fábricas fazem", diz Natália dos Santos Saviolo, de 15 anos, da 1.ª série do ensino médio. "Na prática, você aprende melhor, absorve mais os conhecimentos", concorda o colega Bruno Mirabella Ruiz, que nem vai usar o sabonete - vai guardá-lo como recordação. "Achava a química muito chata, mas descobri que é bem legal."
Engenhocas - Na E.E. Maria da Glória, na Vila Industrial, o professor Walter Weiss também sentia os alunos desmotivados nas aulas de física e química. Sem um laboratório para realizar experimentos, nem dinheiro para comprar um kit laboratorial completo, a solução foi trazer um velho hobby para a sala de aula. Aproveitando sucata e materiais recicláveis, Weiss montou mais de 300 experimentos de várias áreas da física, da mecânica à eletricidade. "Não é tão sofisticado, mas o resultado é o mesmo", conta Weiss, apelidado de Professor Pardal. "Até prefiro sucata, porque é um material do cotidiano do aluno. É algo que ele entende." O trabalho é realizado em parceria com o professor de química Claudemir Papini.
Após um ano de uso das engenhocas, o resultado aparece nos boletins. "As notas de física e química, que eram as mais baixas, já começaram a melhorar", diz a coordenadora pedagógica, Elisabete Monteiro. "Mais do que isso, cresceu o interesse dos alunos pelas matérias." Para a aluna do ensino supletivo Cátia Bueno, de 35 anos, os experimentos facilitaram o aprendizado. "É muito diferente você ouvir uma explicação e ver a coisa de verdade." Nutrição - Enquanto alguns trabalham com o peso molecular da química, outros, como a professora de educação física Érica dos Santos, ficam de olho no peso dos alunos. O projeto, iniciado este ano com crianças da 1.ª à 3.ª série da E.E. Prof. Domingos Sarmiento, no Brás, tem como base a reeducação alimentar, para evitar problemas de saúde e de aprendizado. "O aluno que não come direito não estuda direito; está sempre desligado, não tem vontade de fazer nada", diz Érica. Ela pesou 285 crianças no início e no fim do ano letivo. Cerca de 60% apresentavam magreza e 10 estavam acima do peso. Em parceria com outras professoras, Érica desenvolveu um programa de educação alimentar, ensinando as crianças sobre proteínas, carboidratos e outros nutrientes.
Um ano depois, os 10 mais gordinhos emagreceram e a parcela abaixo do peso caiu para 40%. "Já faz duas semanas que não como besteira", vangloria-se Leonardo Alves da Silva, de 8 anos. A amiga Joyce Leonel Felix, da mesma idade, diz que ficou mais inteligente depois que passou a comer melhor.
"Presto mais atenção no que a professora fala."
A educadora Sílvia Gasparian Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, aplaude as iniciativas. "O grande desafio do professor hoje é tornar a escola interessante", diz. "As escolas são tão fechadas em si mesmas que d
http://txt.estado.com.br/editorias/2003/12/05/ger016.html
O Estado de São Paulo
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