Filosofia na escola? Quem tem, gosta |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 16/12/2003 |
Ao mudar de escola no ano passado, a estudante Natália Leon Nunes, de 17 anos, descobriu que teria aulas de filosofia. À primeira vista, achou uma chatice. "Tinha muitos preconceitos." Mas bastou entrar em contato com a disciplina para que ela mudasse completamente de opinião. "Descobri que o que a gente está aprendendo faz parte de um todo", diz. "Comecei a ter mais interesse em estudar e mudou muito a minha visão de mundo."
Natália, que acaba de concluir o 2.º ano do ensino médio no Colégio Equipe, de São Paulo, está entre os poucos estudantes do País que contam com aulas de filosofia no currículo escolar. Isso pode mudar em breve. Um projeto do deputado federal Ribamar Alves (PSB-MA), que está em tramitação na Câmara, transforma a filosofia e a sociologia em disciplinas obrigatórias do ensino médio.
Para o deputado, a introdução do ensino de sociologia e filosofia como disciplinas regulares dará aos jovens capacidade crítica para que eles possam "exercer integralmente sua cidadania". "Os jovens chegam hoje à universidade sem capacidade de questionamento, vendo o mundo de maneira segmentada."
O projeto, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), foi aprovado por unanimidade na Comissão de Educação e Cultura da Câmara no dia 26, e precisa agora passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para depois ser encaminhado ao Senado. No ano passado, projeto semelhante do ex-deputado Padre Roque (PT-PR) chegou a ser aprovado pelo Congresso, mas acabou sendo vetado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em São Paulo, colégios como o Equipe, o Vera Cruz, o São Luís e o Bandeirantes mantêm o ensino de filosofia, apesar de a disciplina não ser mais obrigatória. A sociologia costuma ser incluída no conteúdo de outras matérias. "A filosofia é fundamental para nós, porque permite que os alunos percebam a relação interdisciplinar das matérias que estão no currículo", diz o diretor do Equipe, Luís Márcio Barbosa.
No São Luís, as aulas de filosofia estão presentes pela tradição dos jesuítas de estudar o tema. "Há uma aceitação muito boa pelos alunos", diz o professor Laez Fonseca. "Muitos vêem a importância das aulas sobretudo quando entram na faculdade." Jussane Cristine Orlandeli Pavan, de 17 anos, acredita que o contato com o assunto tenha ampliado seus conhecimentos.
"Também ajudou muito a melhorar o meu senso crítico."
Para o maestro Walter Lourenção, que trabalhou como professor de filosofia até o início dos anos 80, a disciplina jamais deveria ter sido retirada dos currículos escolares. "O desenvolvimento do raciocínio crítico é fundamental para o desenvolvimento das inteligências individuais, o que é importante para o nosso país", ressalta. "Os jovens precisam construir o seu caminho."
http://txt.estado.com.br/editorias/2003/12/17/ger023.html
O Estado de São Paulo
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