Nas cidades invisíveis: a educação nas favelas |
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Publicado pela revista Educação dez/2003 |
Situado na Vila Mariana, bairro de classe média de São Paulo, o Colégio I. L. Peretz fez um trabalho conjunto este ano com a escola municipal Campos Sales, do Heliópolis, uma das principais favelas paulistanas. O ponto em comum foi o projeto Urbanização, em que estudantes do último ano do ensino fundamental de ambas as escolas fotografaram o centro velho de São Paulo. Como resultado, surgiram uma exposição fotográfica e um encontro em outubro com o senador Eduardo Suplicy, em Brasília. Os estudantes entregaram a ele uma carta alertando para os problemas da favela. A parceria se estendeu para a área de informática. Os alunos do Peretz ministraram oficinas de computação para os colegas do Campos Sales.
A cada oito dias, surge uma favela no Brasil. No mundo, 32% da população (ou 924 milhões de pessoas) vive nessas moradias precárias, em sua maioria sem saneamento básico, asfalto, assistência médica, creches ou escolas. A Pesquisa de Informações Básicas Municipais, divulgada no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que 23% das cidades brasileiras declaram ter favelas ou moradias precárias semelhantes, como mocambos e palafitas. São 2,4 milhões de moradias cadastradas pelas prefeituras – um número maior do que o total de domicílios da cidade do Rio de Janeiro, com 1,8 milhão, segundo o Censo 2000.
Apesar de representar um universo de 6,55 milhões, esses marginalizados brasileiros não têm políticas públicas que os atendam. Governos aceitam as favelas como componentes naturais da paisagem social. O pragmatismo chega a ponto de se propor ações que tornem as favelas lugares habitáveis. Em meio à adversidade, surgem esforços – insuficientes – que ajudam a apontar caminhos e desmascaram a omissão do Estado. Cansada de esperar melhorias, a sociedade civil se une em um movimento silencioso, ainda tímido: o da educação.
Um dos exemplos mais proeminentes desse engajamento está na Maré, um complexo de 16 favelas esparramado pela Zona da Leopoldina, subúrbio carioca situado ao lado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Famosa pela miséria e violência – a área é dividida entre facções do tráfico como Comando Vermelho e Terceiro Comando – , foi nessa região em que nasceu, em 1997, o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm). A entidade tem como inovação o fato de ter sido organizada por moradores da comunidade (leia mais à pág. 42).
Outra característica peculiar é o fato de todos os fundadores do Ceasm terem curso superior – alguns são professores em universidades – e apresentarem trajetória ligada a movimentos sociais na própria Maré. A proposta é funcionar como uma rede sociopedagógica que organiza cursos pré-vestibulares, de idiomas, aulas de artes e informática.
Érika da Silva Costa, 27 anos, vive na Maré desde o nascimento e fez parte da primeira turma pré-vestibular do Ceasm. Quando viu o anúncio do curso, pensou ser uma piada. Para ela, entre a faculdade e a favela havia um abismo quase intransponível. Mesmo assim, Érika freqüentou as aulas e descobriu que o sonho de chegar ao ensino superior era possível de ser alcançado: "Como muitos dos professores eram da comunidade, percebi que nada poderia me impedir de conseguir também."
Veja a íntegra em:
http://www.revistaeducacao.com.br/apresenta2.php?edicao=272&pag_id=493
Revista Educação
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