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Artigo de Zuenir Ventura no site No Mínimo 31/12/2003 |
Você, eu não sei, mas ainda estou empanturrado de comida e bebida, de jingolbel e árvore de Natal, de Papai Noel dizendo rô-rô, televisão berrando anúncios, o mala das Casas Bahia gritando, presentes para trocar e promessas de que no ano que vem não participo de amigo oculto, não como ceia, não tomo vinho e nem vou assistir à Missa do Galo celebrada pelo Papa, coitadinho, enquanto fico ali, em frente à TV, meio anestesiado, quebrando nozes e avelãs compulsivamente. Não, no próximo ano tudo vai ser diferente, a começar de hoje, uma segunda-feira.
Como estou considerando 2003 como terminado, já deu o que tinha que dar, só vou conjugar o verbo ir: vou recomeçar a andar na praia, vou perder a barriga, vou maneirar na gordura, vou medir o colesterol, o triglicerídio, a taxa de glicose, uréia, creatinina, ácido úrico, fosfatase alcalina, transaminase oxalacética, transaminase perúvica, bilirrubina, enfim, exame de urina, segundo jato, e hemograma completo.
Vinho, torresmo, feijoada, goiabada, nem pensar! Quer dizer, pelo menos agora de manhã. Não, é sério. Em 2004, podem acreditar, serei um homem novo, ou melhor, um novo homem, principalmente agora que voltei 20 anos no tempo. Sim, porque nesse Natal tive um reencontro memorável. Graças ao meu filho, que me deu o presente, e à minha irmã, que o comprou, ganhei tênis Bamba, dois pares, um azul marinho e um branco.
Tudo começou quando li nos jornais a seguinte notícia: “O tênis Bamba, ícone dos anos 80, está de volta ao mercado. A marca está sendo relançada pela São Paulo Alpargatas com estilo fashion, que pretende conquistar todos os tipos de jovens”. Poucos dias depois, falava-se de uma big festa de lançamento só para Vips, com decoração especial, um túnel na entrada e “vitrine viva, lounges e camarotes espalhados pelo local”. Os convidados poderiam “costumizar” o seu bamba num estúdio de pintura.
Confesso que me senti injustiçado por não ter sido convidado. Modéstia à parte, fui dos primeiros a usar esse tênis quando não era moda. Ao contrário, não era de bom tom ou bom gosto usar um modelo sem design ou grife. Era até meio furreca e de uso tão raro no meu meio, que cheguei a ser notícia por isso, posando para uma revista calçando um par.
Só sobrevivi esses 20 anos porque, precavido, havia guardado um par, que usava em ocasiões especiais, como a festa de fim de ano do NoMínimo: o meu Bamba preto, mesmo velhinho, todo gasto, fez o maior sucesso. Bravo veterano da campanha das Diretas Já, cujos históricos comícios ele costumava acompanhar, ficou todo prosa quando meus jovens colegas o reconheceram, de ouvir falar, evidentemente.
Veja a íntegra em:
http://nominimo.ibest.com.br/notitia2/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=21&textCode=9945&date=currentDate
No Mínimo
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