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Artigo de Carlos Heitor Cony na Folha de S.Paulo 31/12/2003 |
Sempre que penso na vida dos outros, e na minha própria vida, procuro descobrir onde, quando e por que dobramos a esquina errada. A comparação procede. Estamos num trecho da cidade e queremos ir para um lado, tudo se simplifica então: dobramos à esquerda ou à direita? Evidente que acertamos na maioria das vezes, mas isso não representa nada.
Há uma esquina, há um momento em que fatalmente tomamos a direção errada, por distração, por convicção, ou mesmo por má informação. E se isso ocorre com os indivíduos, de certa forma também ocorre com a humanidade, que afinal é a soma de todos os indivíduos.
Filósofos, teólogos, economistas, sociólogos, iluminados de diferentes tipos e intenções, todos já tentaram descobrir onde e como dobramos a esquina errada. Simplificando o problema, e tomando como base o relato bíblico, a esquina errada foi quando comemos o fruto da Árvore do Bem e do Mal. Daí herdamos a morte, o suor do trabalho, e para as mulheres, as dores do parto.
Até que é pouco. Seríamos bem menos desgraçados se tivéssemos apenas os males da morte, do suor e do parto. Pulando do Paraíso Terrestre para o sambódromo do Rio de Janeiro, é voz geral que, durante o desfile, a escola se perde quando "atravessa" , seja no samba em si, seja nas diferentes alas que a compõem.
No sambódromo, um grupo se dedica apenas a marcar o ritmo, afim de impedir a tragédia. São caras que nem estão aí para o resto, para os destaques, as alegorias, nem mesmo para o próprio enredo da escola. Limitam-se a marcar o ritmo, a disciplinar o tempo.
A conclusão é que falta à grande escola de samba, que é a humanidade, um mestre de bateria eficiente para marcar o nosso compasso. Alguém poderia ser este mestre André que nos falta, mas ao contrário do famoso integrante da Padre Miguel, ele nos deu o livre arbítrio para errar o passo e sair do compasso.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u133.shtml
Folha de S.Paulo
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