Estado começa a fechar turmas de magistério |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 12/01/2004 |
O governo do Estado acabará, até 2005, com os 54 Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefams), unidades escolares que formam professores para dar aulas do ensino infantil até a 4.ª série. "O Estado não precisa de mais professores com essa formação", diz a responsável pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria da Educação, Sonia Maria Silva. O argumento é de que o governo quer trocar o investimento em magistério por investimento em ensino superior.
Estão nos Cefams atualmente cerca de 20 mil jovens. Eles estudam em período integral, recebem bolsas mensais de R$ 240,00 e precisam fazer estágios monitorados em escolas públicas. A partir de agora, os centros não aceitarão matrículas e funcionarão apenas até a formatura dos atuais alunos. "Além do ensino diferenciado, os Cefams têm importância social", diz a professora da unidade do Itaim-Bibi Maria Rachel Fernandes de Sá. Segundo ela, com o período integral e a bolsa, os jovens se dedicam apenas aos estudos.
"Ninguém precisa trabalhar durante o dia e cursar o ensino médio à noite, em escolas da periferia."
O anúncio do fim dos centros, formalizado em uma resolução da Secretaria da Educação de novembro de 2003, desencadeou uma onda de protestos. "Os Cefams são uma experiência muito bem-sucedida. É louvável que o Estado queira oferecer ensino superior, mas não se pode jogar o que já existe na lata do lixo", diz o diretor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Nélio Bizzo. O sindicato dos professores da rede estadual (Apeoesp) tem organizado manifestações contra a medida. "Os centros, assim como todo o ensino técnico, são uma maneira de já preparar os jovens mais carentes para uma profissão", diz o presidente da associação, Carlos Ramiro.
Os Cefams foram criados em 1988, com a finalidade de melhorar a formação dos professores das séries iniciais. Além de São Paulo, outros Estados também abriram centros de magistério, inclusive com investimento do Ministério da Educação. "A realidade agora é outra", diz Sonia. Seguindo recomendações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o Estado tem oferecido formação superior a distância para seus professores. Em parcerias com USP, Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), já foram formados cerca de 6 mil docentes.
Para Bizzo, o fim dos Cefams vai ainda prejudicar a educação infantil no Estado, nível de ensino que tende a crescer nos próximos anos. "Muitas prefeituras não têm condições de pagar salários a professores com ensino superior", diz. Hoje, 29.091 professores dos 57.475 que atuam na pré-escola no Estado têm formação superior. Outros 27.801 cursaram apenas o ensino médio, ou seja, o magistério.
A secretaria lançou também este ano o projeto Escola da Família, em que oferece bolsas parciais em universidades particulares para alunos que trabalhem como voluntários, nos fins de semana, em escolas da rede. Segundo a resolução de novembro, os formandos dos Cefams terão prioridade na obtenção dessas bolsas.
"O governo não pode dar garantia de qualidade de ensino nessas universidades particulares. Não quero estudar em qualquer lugar", diz Aline Aparecida Gonçalves, de 18 anos, que se formou no Cefam em 2003. "Aprendemos a ter capacidade de argumentação e interpretação e lemos muito, coisas que nunca tive nas outras escolas públicas em que estudei", lembra. A intenção do governo é transformar os Cefams em escolas regulares de ensino médio, depois de 2005.
http://txt.estado.com.br/editorias/2004/01/12/ger012.html
O Estado de São Paulo
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