Publicado pelo Estado de S.Paulo 11/01/2004

Desde Domingo, uma animada turma de 60 pessoas, armada de mochilas e equipamentos, participa da Expedição São Paulo 450 anos. Metade do grupo vai para Parelheiros.
A outra, para Cidade Tiradentes. E a partir daí, para a cidade inteira.
\"Estou louco de excitação\", diz o documentarista Sergio Roizenblit, de 41 anos, encarregado de registrar todos os passos dos viajantes para um vídeo de 26 minutos. \"Vai ser demais fazer essa varredura da cidade.\"
Realizada pela Secretaria Municipal da Cultura e Instituto Florestan Fernandes, com patrocínio da Petrobrás e parceria do Grupo Estado, a expedição vai percorrer São Paulo de norte a sul e de leste a oeste, num total de 80 quilômetros.
Durante uma semana, duas equipes de pesquisadores nas áreas de antropologia, museologia, arqueologia, arquitetura e urbanismo, história, etno-musicologia, geografia, sociologia, artes, ciências ambientais, educação e medicina vão documentar o acervo material e humano da cidade.
Cada local a ser visitado foi previamente escolhido entre mais de 700 sugestões enviadas pelos próprios moradores. \"Eles mandaram contribuições sobre cada região, pontos a serem visitados, pessoas, situações, associações que se organizam em torno de temas importantes para a região\", conta a museóloga Maria Ignez Mantovani Franco, uma das coordenadoras da expedição.
Depois de dezenas de reuniões com os grupos, tantas pessoas que não cabiam no auditório do Instituto Florestan Fernandes, foi feita uma pré-seleção.
Segundo Maria Ignez, a participação dos agentes comunitários foi importante para não se fazer um processo cego ou desfocado da realidade. \"Foi muito difícil escolher\", diz. \"Mas o roteiro não está engessado. Ele pode se modificar ao longo do caminho.\" Embora a expedição só comece hoje, alguns se anteciparam e foram ontem à noite registrar uma folia de reis, para não perder a chance.
Museu - Além da pesquisa particular de cada um, há dois kits com mapas e documentos, informações. \"Esse material vai viajar com a gente\", conta Jupira Cauhy, do Instituto Florestan Fernandes e do comitê de organização. A idéia é entrar o mais discretamente possível nos lugares. \"Não queremos invadir a casa dos outros, para não tumultuar.\" Os grupos serão subdivididos para não chegarem 30 pessoas ao mesmo tempo.
\"Senão, a gente vira um acontecimento e transtorna o que quer documentar.\"
Todo o material vai para o Museu da Cidade, que ocupará o Palácio das Indústrias, depois que a prefeita se mudar. \"Vamos colher impressões sobre a cidade, seus habitantes, trajetos, locais de moradia e sociabilidade, trabalho, lazer e as incontáveis, inesperadas e criativas respostas às condições de vida com que se deparam nesta cidade de 450 anos\", diz José Guilherme Magnani, professor de Antropologia da Universidade de São Paulo.
\"Nossa expedição não começa num domingo e termina no outro. Ela vai ser o primeiro passo de um projeto muito mais amplo: a exposição inaugural do Museu da Cidade.\"
As equipes vão ser acompanhadas por estagiários, que anotarão tudo o que o virem e for mencionado pelos especialistas. Repórteres e fotógrafos do Estado e Jornal da Tarde vão acompanhar a expedição para publicar reportagens diárias e um caderno especial no aniversário da cidade. A Rádio Eldorado também transmitirá o evento.
Todas as noites, reunião. E, após uma semana de marcha, o próximo domingo será inteiramente dedicado a um grande encontro de avaliação. Cada viajante vai apresentar o relato de sua experiência e esse é um dos produtos que irá para o Museu da Cidade.
\"Curtição\" - Paulistana de Santa Cecília, a antropóloga Joana Tuttoilmondo, de 27 anos, que faz especialização em museologia e, na expedição, participa do grupo de apoio, vibra com a possibilidade de conhecer o outro lado da cidade. Ela vai caminhar no sentido norte-sul. \"É uma parte quase rural de São Paulo, inesperada na minha vivência cotidiana\", diz. \"Eu sou muito zona oeste.\"

http://txt.estado.com.br/editorias/2004/01/11/cid027.html

O Estado de S.Paulo

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