A formação do museu da auto-estima de SP |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 19/01/2004 |
A Expedição São Paulo 450 anos terminou, mas não o trabalho dos expedicionários. Agora eles começam a elaborar seus relatórios da viagem pelo interior da metrópole. Muitos adicionalmente terão como tarefa montar o Museu da Cidade, previsto para ser inaugurado na primavera no Palácio das Indústrias.
Como instituição, o museu já existe há alguns anos na estrutura da Secretaria de Cultura do Município, tendo ocupado os altos do edifício Martinelli e, depois, o Solar da Marquesa. Mas limitou-se a realizar algumas exposições de caráter histórico e à publicação de uma (boa) revista de vida curta. Em síntese, praticamente não vingou.
Hoje elevado ao primeiro plano, o novo museu assume o papel de espelho da contemporaneidade da terceira mais populosa cidade do mundo. Por ser inédito, o conceito estava meio nebuloso a princípio, mas com a expedição foi ganhando maior clareza.
A museóloga Maria Ignez Mantovani Franco, da empresa Expomus, foi quem teve a idéia de reeditar a expedição - a primeira foi realizada há 19 anos, por iniciativa do Centro Cultural São Paulo e do Jornal da Tarde -, como ponto de partida da montagem do primeiro acervo do museu. A Expomus tem mais de 20 anos de atuação na montagem de projetos de exposições no Brasil e no exterior.
Maria Ignez foi uma das coordenadoras da rota leste-oeste da caravana ontem encerrada. Por sua indicação, a também museóloga Maria Cristina Oliveira Bruno assumiu a diretoria da Divisão de Iconografia, que abriga o Museu da Cidade. Maria Cristina foi uma das coordenadoras da rota norte-sul. Ambas, a partir de hoje, têm a missão de implementar o museu, com a ajuda de vários dos cientistas \"viajantes\", em especial o antropólogo José Guilherme Magnani, da Universidade de São Paulo, e do arquiteto, fotógrafo e museológico Júlio Abe, os dois veteranos da primeira expedição de 1985 e também coordenadores das rotas deste ano.
Abe foi, adicionalmente, quem concebeu a expedição original. Ao fim da nova jornada, ele empolga-se com o novo museu, que terá acervo completamente diferente de tudo o que se possa imaginar de um museu. \"O Museu da Cidade será original. Primeiro, porque seu acervo vai abarcar assuntos tangíveis e intangíveis da vida atual da metrópole. Ou seja, vai se compor desde objetos coletados na expedição, como rochas do Lageado de Guaianases, até o registro de músicas hip hop da comunidade de Heliópolis.\" Nesse contexto, o acervo terá materiais permanentes e efêmeros. E a forma de registro poderá ser real ou virtual.
Rede - Por ser um museu do contemporâneo, o acervo do museu será vivo e não estará abrigado apenas no palácio do Parque D. Pedro II. O museu vai funcionar em sistema e em rede, que são coisas diferentes, como explica a expedicionária, historiadora e museóloga Beatriz Cavalcanti Arruda, autora de uma tese a respeito do tema.
\"Ele será um sistema porque abraçará todos os equipamentos já existentes na rede oficial de museus da cidade, como as casas sertanistas e bandeiristas. E funcionará em rede porque vai identificar e levar a qualificação museológica para locais de grande potencial de interesse da cidade, como o Botafogo Futebol Clube da Vila Minerva, na zona leste, que tem todo um acervo próprio.\"
Esses conceitos, presentes desde o início na proposta de Maria Ignez Mantovani Franco, puderam ser comprovados como válidos pela expedição. E outras idéias mais surgiram durante a caminhada. O educador Paulo Portella Filho sugeriu duas coisas. Uma delas, que aqui se adotasse um sistema já praticado no Japão, uma espécie de \"tombamento\" de pessoas. Outra idéia sua é a concepção de uma brincadeira educativa para crianças, com base na expedição, para um melhor conhecimento da cidade.
O historiador Janes Jorge, por sua vez, propõe que o museu registre todo o tipo de sentimento que existe na cidade, desde a solidão dos meninos de rua até a emoção dos que falam de São Paulo com nostalgia. \"A idéia é que o museu contribua para a auto-estima do paulistano.\"
http://txt.estado.com.br/editorias/2004/01/19/cid022.html
O Estado de São Paulo
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