Mistura ajuda a combater anemia infantil |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 20/01/2004 |
A partir de junho, toda a farinha de trigo e milho vendida no País terá de ser enriquecida com ferro, segundo resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para atender a essa demanda, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) desenvolveram a tecnologia de microencapsulamento de sulfato ferroso, que pode ser misturado à farinha para fabricação de pães. O objetivo inicial do projeto é combater a anemia por deficiência de ferro entre crianças do ensino pré-escolar, de 2 anos a 6 anos e 11 meses.
O sulfato ferroso, ou FeSO4, é uma fonte de ferro acessível - do ponto de vista econômico - e de fácil absorção pelo organismo. Mas não pode ser adicionado diretamente à farinha, porque acaba oxidando e alterando as características do produto. A solução foi o microencapsulamento. "É um processo bastante simples", disse a coordenadora da pesquisa no IPT, Maria Inês Ré. Os detalhes, entretanto, não podem ser revelados porque fazem parte de um pedido de patente, depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Basicamente, os "grãos" de sulfato ferroso são cobertos com uma microcápsula protetora, que só se degrada dentro do organismo.
O trabalho, iniciado há cerca de três anos, é realizado em parceria com o Departamento de Pediatria e Nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), além da empresa Fermavi Eletroquímica, encarregada de produzir o ferro encapsulado.
A anemia ferropriva, como é chamada, atinge cerca de metade das crianças em idade pré-escolar, segundo o especialista José Augusto Taddei, da Unifesp. O que resulta, além da deficiência nutricional, em baixa resistência, lentidão de reflexos e dificuldade de aprendizado. Após os experimentos iniciais com porcos, os primeiros testes com seres humanos foram realizados em quatro creches, com 412 crianças. Por 24 semanas, duas receberam pãezinhos com o FeSO4 encapsulado e as outras duas, pãezinhos normais.
Amostras de sangue foram colhidas e o consumo de cada criança monitorado por alunos de pós-graduação. Cerca de 46% tinham deficiência de ferro. A análise dos resultados deve terminar este mês. "Já vimos que o programa foi bem aceito nas creches", disse Maria Inês. "As crianças aceitaram os pães sem qualquer problema."
Se o resultado for mesmo positivo, Maria Inês acredita que o sulfato ferroso microencapsulado pode ser uma opção prática e barata para combater a anemia nas escolas. "O programa também não depende da supervisão dos pais em casa - fatore considerado, em alguns casos, responsável pelo insucesso da introdução de alimentos fortificados na merenda escolar."
http://txt.estado.com.br/editorias/2004/01/20/ger013.html
O Estado de São Paulo
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